A consulta das listas partidárias para as próximas eleições legislativas foi decerto acompanhada de muito nervosismo por esse país fora – afinal, a taluda tanto poderia acarretar o sonhado cargo como poderia implicar uma despromoção. Fizeram-se contas, balanços, mediram-se méritos e deméritos antes de se chegarem por fim às listas definitivas. Agora que a poeira dissipou vale a pena olhar para os nomes escolhidos, os eleitos da nação, aqueles a quem depositamos esperança de protagonizar uma legislatura mais serena. E confesso que estou surpreendido com algumas promoções e sobretudo com alguns castigos. Mantendo-me fiel ao espírito do blog, comentarei apenas alguns nomes que gravitaram na esfera do Ambiente
Comecemos pelo Partido Popular (PP). Uma só surpresa, mas de peso. Luís Nobre Guedes, ministro do Ambiente na última legislatura, será lançado às feras em Coimbra, concelho onde o PP tradicionalmente não elege deputados. Ambientalistas e autarcas, sobretudo os que se movimentam na zona centro, saudaram há semanas a posição inflexível de Nobre Guedes no processo da co-incineração prevista por José Sócrates para a região de Coimbra. Há momentos em que vale a pena morder os lábios e manter alguma contenção verbal. Alguns não o fizeram e talvez hoje se arrependam. Pergunta o comum dos mortais: não estaria Nobre Guedes já em campanha por Coimbra quando anunciou a sua oposição à solução socialista?
Percebeu bem, caro leitor. Um ministro em pleno exercício das funções anunciou então a sua oposição ao processo da co-incineração aparentemente por motivos eleitorais, porque já ponderava concorrer por Coimbra, onde o debate sobre o tema é tudo menos racional e tinha boas oportunidades de ser recebido como o messias do século XXI (designação, aliás, apropriada para a personagem). Escrevi na altura que Nobre Guedes não tinha fundamentos para criticar a solução socialista da co-incineração, a única que por enquanto é válida. Nunca imaginei, porém, que o ministro já estava a preparar o futuro.
No Partido Social Democrata (PSD), a surpresa foi provocada noutra trincheira. Já tinha antecipado algumas linhas de escrita sobre a omissão do actual secretário de Estado, Jorge Moreira da Silva. Estaria o PSD a renegar o seu principal estratega no campo da poluição e das alterações climáticas? Afinal, as listas foram entretanto emendadas ontem e Moreira da Silva aparece em lugar elegível por Lisboa. Excepto se uma hecatombe eleitoral modificar a aritmética. Talvez nunca venhamos a saber o que motivou a omissão e a posterior readmissão.
Assim, no PSD, a principal notícia ambiental é oriunda de outro quadrante. O Movimento Partido da Terra (MPT) coligou-se com os sociais-democratas e negociou a inclusão de potenciais deputados nas listas nacionais. Quer isto dizer que, em princípio, teremos na Assembleia representantes do movimento ecologista de esquerda e de direita. Mas o processo não foi pacífico. Basta espreitar o texto de opinião de um dos fundadores do MPT, inserido no blog "Ambio" (ver texto completo aqui), para perceber que a associação ao PSD foi crispada.
Ainda na esfera ecológica, não deixa de ser estranha a ausência de Isabel Castro da lista do Partido Ecologista Os Verdes (PEV). Deputada histórica do PEV, Isabel Castro ainda não se pronunciou sobre a lista do seu partido (eu, pelo menos, ainda nada li sobre o assunto. Penitencio-me se essa reacção já tiver sido publicada) para as eleições. Para o seu lugar entra Francisco Lopes, um advogado que dispôs de pouco tempo na Assembleia (escassos três meses) para mostrar o que vale.
No Partido Socialista (PS), os rumores proliferam por estes dias. Já escutei três nomes diferentes como potenciais ministeriáveis para a pasta do Ambiente… se de facto o PS vencer as próximas eleições. Não os divulgarei, mas até tenho o meu preferido! No campo ambiental, não detectei nomes imprevistos e já esperava as omissões. Poucas surpresas, portanto.
Aliás, o mesmo posso dizer do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista Português. As respectivas listas não parecem apresentar surpresas nesta área.
1 comentário:
Uma adenda ao que escrevi: a distrital de Braga do PSD, pela qual Jorge Moreira da Silva deveria concorrer, fez saber que excluiu o nome do actual secretário de Estado da lista concelhia. Moreira da Silva foi depois repescado por Miguel Relvas (ver Público de 11/01) para a lista de Lisboa em lugar elegível. Fica a explicação.
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