sábado, outubro 28, 2006

FNAC Chiado

Integrado nas comemorações do 21.º aniversário da Quercus, apresentarei na terça-feira, à hora de almoço, na FNAC Chiado, uma comunicação abreviada da investigação que desenvolvi no âmbito do projecto de mestrado, agora publicada em livro ("A Quercus nas Notícias", Porto Editora, 2006).
Amigos e menos amigos estão, desde já, convidados para o "banho de multidão" que se avizinha. As perguntas incómodas não serão respondidas, e os intervenientes mais activos serão tratados como agitadores. Se puder escolher, prefiro uma audiência passiva, em calada admiração!...
Bem dizia uma leitora, há umas semanas, que começo a levar-me demasiado a sério!

quarta-feira, outubro 18, 2006

Pa-ssa-dor



Adj. que passa; s.m. aquele que faz passar, circular ou que transporta; desencaminhador; coador; guarda-redes do Sporting

Trabalho despachado...


… vamos a coisas sérias. 19h45. Sector B2. Cachecol da sorte («Graças a Deus, Não Sou Lampião!»). E fé de que é desta que os alemães vão finalmente tombar.

terça-feira, outubro 17, 2006

Tese e Antítese

No Insurgente, André Azevedo Alves assina um dos artigos mais polémicos do momento. Chama-se “Alterações Climáticas e Cepticismo Económico” e chega-nos numa fase em que, suspeitava eu, já se poderia abrandar o esforço de comunicação dos riscos das alterações climáticas. A mensagem – difundida de forma mais ou menos grosseira, em salas de aula ou em filmes, por cientistas ou políticos – parecia clara: as alterações climáticas são já irreversíveis. Ninguém, em rigor, pode prever o grau de aquecimento/arrefecimento da temperatura média anual, a potencial subida do nível do mar, o colapso da biodiversidade, a percentagem correcta da redução do efeito de estufa e consequentes danos para a saúde, a alteração exacta das correntes oceânicas, o esgotamento de recursos naturais… Mas pode-se hoje, com o grau de certeza que não existia em 1974 no artigo citado da “Time”, falar num impacte real da actividade humana no planeta.
André Azevedo Alves não concorda. Necessita de mais provas. Não “permite” as intervenções estatais para mitigar as alterações climáticas sem provas mais concretas e desconfia dos consensos científicos, a que chama “eco-religiosos”. Resume as alterações climáticas ao aquecimento global (!?!) e conclui, com estrondo: «Sendo os recursos disponíveis para enfrentar as necessidades humanas limitados, é necessário fazer escolhas, que são intrinsecamente económicas. Só é justificável aplicar uma determinada medida para a mitigar o aquecimento global se, para além de a mesma ser eficaz, apresentar também uma relação de custo-benefício que a torne preferível a acções alternativas que deixam de poder ser executadas pelo facto de essa medida ser posta em prática.»
Meu caro André: já passámos essa fase. E passámo-la a toda a velocidade, fumegantes e ignorantes do que fazíamos. Infelizmente, a equação já não se resume a medidas que geram emprego ou a medidas que travam o crescimento. A equação escreve-se com novos termos: não fazer nada e esperar para ver ou consagrar cada vez mais verbas para planos de combate às alterações climáticas [como aquele que o governo de Santana Lopes aprovou nos primeiros dias de 2005], independentemente do custo económico. Leu bem: independentemente do custo económico, pecado supremo para um economista.
A lógica da Causa Liberal tem sido sempre a crítica a qualquer entrave à actividade económica, a qualquer regulação, a qualquer restrição à competitividade. Em nome disso, fechamos os olhos às fábricas sem filtros, às descargas de efluentes e às apostas sem fim em combustíveis fósseis. Cruzes, credo! Não travem a indústria, estupores, que ela já está tão débil.
A acção, porém, já não é meramente do foro moral, reservada a meia dúzia de cientistas que anteviram, há 20 anos, no conforto do laboratório, a pegada ecológica da espécie humana. A acção tornou-se, para mal dos nossos pecados, politica. Por muito que lhe chamem «economicamente irracional».

P.S.: O recurso a Bjorn Lomborg é grotesco. Se o IPCC é alarmista, Lomborg deve ser consensual. Corrijo: “é mais sóbrio”.

sexta-feira, outubro 13, 2006

O COMEÇO DO FIM DOS BLOGUES GRATUITOS

(post reproduzido do Indústrias Culturais, de Rogério Santos . Não pedi propriamente licença ao autor, mas fica a vénia respeitosa)

Desde o início de adesão ao mundo dos blogues que eu esperei o dia em que iria acabar o acesso gratuito, dúvidas que cresceram quando passei a incluir imagens fixas (fotografia), sons e, em especial, imagens em movimento (vídeo).

O caso mais paradigmático de mundo de blogues é a Blogger, que começou como uma pequena empresa em Agosto de 1999, localizada em S. Francisco, chamada Pyra Labs. Em 2002, foi comprada pela Google e, desde então, não tem deixado de surpreender por manter os serviços gratuitos. Agora, no começo desta semana, a Google comprou a You Tube, onde se alojam vídeos até dez minutos, serviço que eu tenho usado desde o princípio deste ano. Tenho-me mantido mais ou menos informado sobre as movimentações da Google, mas não acredito na eternidade da gratuitidade dos serviços. Certamente que pagarei para continuar a usufruir desta liberdade criativa do blogue, quando a empresa americana me pedir para tal.

Já a Filelodge, onde alojei registos sonoros, retirou-os, sem qualquer informação adicional, quando foi comprada pela Bolt. Mais recentemente, a Flickr pôs termo ao alojamento gratuito de imagens a partir de um dado número de imagens colocadas. A estratégia foi diferente: não se acede a mais do que 200 imagens; se houver mais, elas ficam inacessíveis (mas não são apagadas), voltando à visibilidade quando se efectuar um pagamento determinado. Como não monitorizo todo o blogue, dada a sua extensão, não sei quantas imagens estão inacessíveis. Eu, que me habituara a trabalhar com a Flickr, sabendo as dimensões certas para colocar as imagens, ainda ponderei durante dias aderir ao serviço pago. O problema que se coloca é o número de entidades a pagar os serviços.

Anteriormente, eu usava os serviços do Sapo, mas deixei de recorrer a esta empresa quando houve mudança de plataforma. Mesmo antes, eu recebera a indicação que as imagens que ali alojava num blogue seriam apagadas, caso não continuasse a alimentar o blogue com nova informação. Cheguei a trocar emails com responsáveis pelo Sapo, indicando que estava disponível a pagar o serviço, mas recebi a mensagem que o serviço era apenas gratuito.

A razão principal desta mensagem é que outra empresa fornecedora de blogues gratuitos mudou de estratégia. Estou a falar da Eponym, onde alojei um blogue chamado EUMedia, fazendo alusão a um livro sobre o impacto do alargamento da União Europeia nos media, coordenado por Paulo Faustino (MediaXXI). Com data de ontem, a Eponym anuncia que vai acabar com os seus serviços de blogues gratuitos.

Por duas razões, como o texto em inglês diz: "First, we did not like having to put advertisements on people's blogs. We know that our users would put up with the ads to have a free blog, but we don't want you to have to "put up" with anything, especially an invasive and annoying ad on your blog that you can't control. Second, the advertising revenue from the free blogs that we did receive was not nearly enough to cover the costs of providing the free blogs". Isto é, a fornecedora do serviço não punha anúncios nos blogues, mas os blogueiros que não gastavam dinheiro pela construção do blogue punham publicidade nos seus blogues, além de que a publicidade recebida pela Eponym não dava para cobrir os custos de fornecimento do serviço.

Mais cristalino e compreensível que isto não é possível. Um serviço não pode ser gratuito, pois alguém o paga para ter essa vantagem. Como escreve um articulista do Diário de Notícias, não há almoços grátis. Por isso, se um blogueiro quer manter o seu espaço de contacto, ele precisa de ajustar contrato com uma empresa, por um valor adequado, para colocar imagens fixas e em movimento, sons e textos, mudando sempre que quiser o seu layout, de modo a tornar dinâmico aquele espaço.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Mestres da Infografia



Pegue no lápis, deite a língua de fora e escreva o seguinte endereço: anyformsdesign.com. Memorize-o. Grave-o nas preferências do computador. Recite-o aos amigos.
A Anyforms, que o Meios & Publicidade justamente consagrou, no final de Julho, como a primeira empresa portuguesa produtora de infografia, chegou agora ao universo digital.
Há dez anos, quando conheci o Luís Taklim (o Leonel Pinto, co-fundador da Anyforms, tinha sido meu colega anteriormente na "Gazeta dos Desportos", sob chefia do Eugénio, do Mário e do chefe Galvão), associava a infografia exclusivamente a tabelas e gráficos de queijos. Mais não era pedido no formato do jornal diário, mais não se fazia. O infógrafo parecia uma extravagância.
Com esta dupla extraordinária, todavia, aprendi imenso. Percebi que o texto não é forçosamente o melhor meio para transmitir uma notícia. E aprendi - para o melhor e para o pior - a conceber a produção jornalística como um processo que não termina na recolha de dados, mas sim na mesa dos designers, responsáveis pela etapa decisiva: a concepção da página, ou da notícia, num formato que torne irresistível a leitura.
Os nossos caminhos entretanto separaram-se. A Anyforms cresceu. Publicou trabalhos em Portugal e no estrangeiro. Ganhou prémios e o reconhecimento dos pares. Esbarrou com alguns cabeças-duras, mas, como os mais aptos de Darwin, sobreviveu e floresceu.
O resto da história escreve-se aqui.

De Coleccionador


A revista “Volta ao Mundo” deste mês é absolutamente notável. Mesmo para mim, leitor desde a primeira hora e potencialmente menos impressionável, trata-se de uma edição de estalo. É para ler, reler e guardar na estante, como item precioso de coleccionador.
Já se sabia que a fotografia estava infinitamente melhor de há dois anos para cá. Agora, porém, é a reportagem escrita que se destaca. A abordagem de Paraty, por exemplo, é exemplar. A melhor de sempre.

terça-feira, outubro 10, 2006

Olé… Porquê?

Em Espanha, debate-se a criação do 14.º parque nacional do país – Monfragüe –, um processo envolto em alguma crispação, pois ocorre já depois de o Tribunal Constitucional espanhol ter lançado uma bomba administrativa: a sentença 194/2004, datada de Novembro de 2004. Segundo os señores juízes, as comunidades autónomas serão, a partir de agora, a autoridade máxima para gestão dos parques nacionais. O Estado, se participar na gestão das áreas protegidas, fá-lo-á residualmente, sobretudo em parques cujas fronteiras não se compadeçam com os limites das juntas autónomas.
Em dois anos, as mudanças são para já graduais. O Parque Nacional de Aigüestortes já está sob administração da Junta da Catalunha, e Doñana, Sierra Nevada e Monfragüe encontram-se sob alçada da Junta da Andaluzia. Os restantes arrastam os pés, provavelmente porque as respectivas comunidades autónomas não têm meios ou vontade de agarrar o touro pelos chifres. Para já, é o Organismo Autónomo de Parques Nacionais, dependente do Ministério do Meio Ambiente, que arca com a responsabilidade.
A medida, há muito solicitada pelas sensibilidades autónomas, afigura-se perigosa. Em primeiro lugar, o Tribunal Constitucional não pareceu cuidar da elementar distinção entre parques nacionais e parques naturais. Os primeiros são, por definição do documento modelador da rede espanhola de áreas protegidas, “áreas de interesse para a nação” e “ecossistemas únicos no país”. Ao “entregá-los” a entidades regionais, envia-se uma mensagem difusa: os parques até são nacionais, mas o Estado central prefere não os gerir. Nacionais na forma, regionais no conteúdo, entenda-se,
Segundo problema: as pessoas. Afigura-se lógico que o Organismo Autónomo caminha a passos largos para a extinção. E os seus funcionários? Serão automaticamente transferidos para as respectivas juntas autónomas? E no caso do Parque Nacional dos Picos de Europa, que se espraia por duas autonomias diferentes? Quem herda os “recursos humanos”? E o passado contratual de vigilantes, biólogos e guias: é mantido ou obliterado? A rede de áreas protegidas espanhola está em polvorosa, ao ponto de, vejam lá, nos invejarem a tranquilidade (mal eles sabem!…)
Terceiro problema: a ausência de um órgão de arbitragem. Transponham o caso para a realidade portuguesa. Imaginem a dissolução do Instituto da Conservação da Natureza enquanto entidade gestora das áreas protegidas sob dependência do Ministério do Ambiente e a criação de unidades múltiplas de gestão de uma única área protegida. Quem atribui fundos? Quem responde por projectos internacionais? Quem coordena estratégias nacionais? As autonomias? É como pedir ao maluco para gerir ao asilo...
Pessoalmente, penso que Portugal tem pouco a importar do modelo espanhol de gestão de áreas protegidas. Por felizes circunstâncias, a eventual adaptação da medida ao nosso território parece improvável: nem os municípios ou áreas metropolitanas têm legitimidade para o requerer, nem há uma vaga de fundo regionalista e orgulhosa, ansiosa por ferrar o dente em todos os resquícios da nacionalidade institucional? Por isso, olhamos com um certo desdém para as ambições dos Fernandos Ruas espanhóis. Nem tudo é azul no país vizinho.