sexta-feira, maio 29, 2015

Desafio aceite



Declaração de interesses: sou amigo, colega, leitor e admirador de Rogério Santos de quem fui aluno e orientando.
Deixo aqui a recensão de que o meu livro foi alvo, não só porque ela reflecte o cuidado habitual do autor do Indústrias Culturais em criticar com substância e método, mas também pelas pistas e sugestões que o texto encerra.
Ao primeiro desafio, adiro com entusiasmo — nas próximas semanas, colmatarei a falha e narrarei um episódio formidável de uma mulher-jornalista desconhecida. Estava guardado para o momento em que conseguisse confirmar a data de óbito da pessoa em causa, mas, desafiado, acelerarei. Ao segundo, já não está nas minhas mãos. Mas espero novidades nessa frente. Com uma vénia agradecida ao autor.

quinta-feira, maio 28, 2015

Dos linces, dos homens e de um fotógrafo



Fartamo-nos de sentenciar que acabou o tempo do jornalismo de investigação. Que o tempo de pesquisa, processamento, reflexão e publicação ou difusão já lá vai. «Jornalismo imediato», prega o spot de uma televisão. Não é um diagnóstico vão. Ele é válido para quase todos os jornalistas e para quase todos os órgãos de comunicação que conheço – por motivos válidos e dificilmente removíveis, entenda-se. Mas eu conheço pelo menos um tipo com um brio invulgar.
A reportagem que publicamos amanhã sobre o lince-ibérico poderia ter sido concluída em Dezembro, com a libertação simbólica dos primeiros linces num recinto controlado. Ou em Outubro de 2014 quando as notícias sobre o sucesso de reprodução e sobrevivência em cativeiro eram muitíssimo animadoras. Ou mesmo em Março deste ano quando as primeiras libertações de animais em ambiente totalmente selvagem tiveram lugar. Para o Luís Quinta, faltava mais uma imagem. Mais um dado.
Perturbou metade da população da serra de Monchique em busca de informação, de rumores de avistamento. Foi para Vila Nova de Milfontes há mais de dois anos e descobriu um lince solitário, conhecido e tolerado por caçadores e população local, mas bem fora da área onde era suposto viver. Uma espécie de Tom Sawyer entre os linces, portanto. O Luís chateou coleccionadores privados que guardavam exemplares de linces caçados há décadas [num caso, um lince quase contemporâneo do 5 de Outubro de 1910]. Pediu dados à equipa de monitorização. Esperou por autorizações. Obteve dados inéditos sobre movimentos dos linces. Esta era uma das histórias que o Luís não queria falhar. Queria contá-la sem hipérboles. Só os factos – dados de conservação, ameaças reais, desafios de investigação, incógnitas.
Há fotografias na reportagem que publicamos amanhã que demoraram semanas a preparar. Há uma, particularmente deliciosa, na qual o Luís juntou uma imagem de câmara accionada por controlo remoto com o vigilante que tem a missão de verificar todos os dias os vultos que possam ter sido captados fortuitamente por esses dispositivos. Foi ele que, numa bela manhã de 2013, encontrou uma imagem inesperadamente bela na memória do equipamento. Teria sido tão fácil fotografar só o vigilante. Ou um vigilante. Ou publicar só a imagem a preto e branco do animal surpreendido naquele instantâneo fantasmagórico. Nenhuma contaria tão bem a nossa história como aquela que o Luís preparou e obteve (Não a mostro de propósito para vos forçar a procurá-la na revista!).
O jornalista Baptista-Bastos escreveu certa vez, no final de uma reportagem: «Ouvi dizer, aqui há muitos anos, que uma história começa quando os outros se surpreendem.» Vejam amanhã as fotografias do Luís Quinta e surpreendam-se. Então, sim, espero que estejam prontos para a história.

terça-feira, maio 26, 2015

Recauchutagem e empastelamento

Arquivo da Biblioteca Nacional do Brasil. Projecto Jornais Extintos


[Crónicas hospitalares] Encostado à boxe para recauchutagem da máquina, encontrei, em leituras improváveis, um dos mais fenomenais empastelamentos da imprensa lusófona. O pastel, ou empastelamento, era o pesadelo dos tipógrafos — a junção inadvertida de dois textos diferentes. Aconteceu em 1908 na Gazeta de São João da Boavista, Brasil. Noticiava-se a partida para o Rio de um médico estimado em Goiás e a notícia foi poluída pelo anúncio de um certame zootécnico marcado por um porco de dimensões generosas. Transcrevo:
«Parte hoje para o Rio de Janeiro, onde demorar-se-á alguns meses, o nosso querido amigo, dr. José da Silva Mattos.
É um dos melhores exemplos de suínos que temos visto, attingindo o seu peso, caso entre nós nunca visto, a 168 kilogrammos.
Os seus numerosos amigos, querendo demonstrar quão sensível lhes será a ausência do estimado clínico que vae remetido para a Exposição Nacional onde certamente ganhará um dos prémios destinados a animais do ceva, demonstrando os cuidados que dispensava com sua carinhosa presença aos seus enfermos, attendendo a qualquer hora do dia ou da noite os chamados por maior que enche de orgulho os criadores goyanos certos de que esse representante da zootechina do município na Capital attestará o adiantamento de operoso clínico que deixa fundas saudades entre nós com sua retirada, felizmente não longa.
Teremos a maior satisfação e prazer em vel-o esquartejado, vendido a peso seu toucinho dando razoável e compensador lucro a todos os seus amigos.»

Ponto de partida: Memórias de um Repórter, Tomé Vieira, Lisboa, s/ data.

quinta-feira, maio 21, 2015

Com a devida vénia



Associado, no mesmo texto de A BOLA, a dois monstros do jornalismo português e do Diário Popular, Baptista-Bastos e Aurélio Márcio, não posso deixar de executar uma vénia respeitosa ao generoso António Simões por esta recensão formidável do Parem as Máquinas publicada no jornal de hoje.

sábado, maio 16, 2015

Sessão de lançamento [fotos]

Faltam palavras para exprimir o meu agradecimento. Ficam as imagens, captadas no Salão Nobre da Casa da Imprensa em reportagem fotográfica do Xavier. Muito obrigado a todos!
























sexta-feira, maio 08, 2015

Oscar Mascarenhas num texto comovente de Antunes Ferreira


Toalha de banho por mor dos picantes muito picantes
Por Antunes Ferreira
Era o goês que conheci – e conheci e conheço muitos – que mais suava quando comia picantes muito picantes A expressão era dele. Além de camadas de profissão éramos Amigos. A minha mulher Raquel conhecia-o desde que ele tinha quatro anos. Em Goa, obviamente. A família, no entanto, era oriunda de Damão.
Quando vinha almoçar ou jantar a nossa casa o ritual repetia-se: a Raquel ia buscar uma toalha de banho para ele enrolar a cabeça e o tronco molhados de tanto suor. Um tipo pachola, repentista, irónico, por vezes mesmo acintoso, mas era um Grande Jornalista.
Falar dos seus muitos méritos profissionais é despiciendo. Já muitos o fizeram e certamente muito melhor do que eu faria. Aqui apenas tento  falar dos seus contactos humanos. Vejam só. Um dia em nossa casa no momento à Lapa almoçavam três casais. O Mário Ventura Henriques e a sua mulher Eglantina, o Oscar (sem acento) e a Natal, a Raquel e eu.
Foi um almoço para sempre recordar, como reza o anúncio. A malta comia (muito), bebia (muito) e o maestro ela ele. O Mário esbugalhou os olhos quando viu a toalha de banho. E ele imperturbável: nunca viste um gajo a comer picantes muito picantes? A partir de agora já podes dizer que viste… O Ventura Henriques engoliu em seco, perdão, molhado e continuou a conversa entremeada das comidas e bebidas.
Entrementes os meus filhos vieram à mesa para abastecer os seus pratos e ficaram como se não fosse nada com eles; já estavam habituados à encenação, já estavam habituados à toalha de banho, já estavam habituados com ele. Então meus meninos (o Miguel já tinha 20 anos,  já andava no Instituto Superior de Ecomimia e Finanças, o Paul, com 18, acabara de entrar em Sociologia e o Luís Carlos, o mais novo estava a preparar-se para Direito mas para ele eram meninos) como vão de namoradas? Vá, não se encolham que os papás não ouvem; desembuchem…
A Eglantina disse sotto vocce, então não perguntas pelos estudos? E ele: não preciso; sendo filhos da minha prima Raquel têm de ser bons alunos. Já o pai (que era eu, suponho) para ser burro só lhe faltam as penas!...  Brincava. Caímos na galhofa. Ele era assim. No entanto era muito sensível e escondia a sensibilidade pela ironia, sem dar conta sobretudo aos outros que tinha dificuldades nesse jogo de sombras. A Natal conhecia-o bem e boca calada prudentemente.
Quando terminou o repasto  o tipo avisou: não comam mais! A Raquel e o Antunes Ferreira têm para jantar outro casal amigo e vão aproveitar estes restos para dar a esse casal. Aí ninguém pôde retrair o riso. As gargalhadas saíram em catadupas. E fomo-nos ao café (que não eu porque não o tomo) e aos uísques que eu tinha em quantidades muito apreciáveis.
E pronto, era para mim assim o Oscar (sem acento) e no meio do desgosto – chegaram-me as lágrimas aos olhos quando um e-mail me deu a notícia – bom Amigo, camarada, terno e sensível embora estas qualidades fossem por ele bem encapotadas. Só uma vez o vi eufórico: quando a sua Carol terminou o mestrado, o que enunciou a todas as Amigas e todos os Amigos, sem esconder o orgulho que tinha pela filha Carolina, a menina dos seus olhos.
Mas, podem ter a certeza de que o Oscar (sem acento) era um Grande Jornalista.

quinta-feira, maio 07, 2015

Pré-publicação, Sábado



A edição de 7 de Maio da revista Sábado tem a amabilidade de fazer a pré-publicação de parte do primeiro capna semana em cursosta.u agradecimento sincero ítulo do meu Parem as Máquinas!, publicado na semana em curso.
Aqui fica a nota do meu agradecimento sincero à rapaziada da revista.

terça-feira, maio 05, 2015

Sessão de lançamento marcada



Está marcada e conto convosco. No dia 14 de Maio, pelas 18h30, no auditório da Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca, ao Largo de Camões), o jornalista João Paulo Cotrim apresentará o Parem as Máquinas!
Espero ver-vos por lá!

segunda-feira, maio 04, 2015

Parem as Máquinas! (2)


É já na quarta-feira que o livro Parem as Máquinas! chega às livrarias. Convenientemente, o Presidente da República não estará em Portugal à data do lançamento, pois partiu para a Noruega em visita de Estado. Habituado como estou a ler nas entrelinhas – capacidade muito comum entre os míopes – é natural que os dois actos estejam relacionados. Enfim: Cavaco Silva não estará, mas os leitores do blogue compensarão a ausência protocolar com idêntica dignidade e menos episódios vagais.
Antecipo hoje o sumário da obra e ameaço desde já com uma sessão de lançamento na próxima semana em Lisboa (darei mais pormenores nos próximos dias). Posso desde já confirmar que a apresentação pública do livro será conduzida numa língua indo-europeia, mas hesitamos entre uma língua morta e uma língua viperina.
Está anunciado, rapaziada! Unicuĭque suum, como diria Lutero. A cada um, o seu [exemplar].