terça-feira, junho 14, 2005

Tempo de antena


Nota de redacção: As próximas linhas são da responsabilidade exclusiva do interveniente.

Se algum dos estimados leitores quiser aparecer na próxima quinta-feira, às 17h, na Universidade Católica de Lisboa, poderá ouvir as minhas sábias palavras, no ciclo de seminários de investigação organizado por esta instituição. Clique na imagem para ver o programa.

FIM DE TEMPO DE ANTENA.

sexta-feira, junho 10, 2005

Também acontece

(Washington, 10 de Junho - Crónica final) Um processo judicial iniciado em 2003 está agora em vias de resolução, e o seu desfecho afigura-se relevante para o público português. Refiro-me à investigação que incidiu sobre as alegadas irregularidades da actividade de uma conhecida ONG: a Nature Conservancy. O processo que a seguir resumo não deve ser entendido como um sinal de reprovação extensível a casos portugueses ou norte-americanos. Mas é forçoso que não tomemos como certa a independência e autonomia de cada agente social (como aliás nos demonstra a recente vocação política de Sá Fernandes).
A comissão financeira do Senado americano apurou, segundo a imprensa (ainda não foram publicadas as conclusões oficiais) que a Nature Conservancy (NC) abusou da isenção fiscal a que tinha direito, uma vez que as ONG norte-americanas estão dispensadas de pagamento de imposto desde que que não ultrapassem determinado limite orçamental. Segundo a acusação, os bens da NC terão aumentado exponencialmente, superando quatro mil milhões de dólares em 2004, volume esse que obrigaria legalmente a associação a abdicar das regalias fiscais. Convenhamos que com tal actividade financeira o conceito de organizção sem fins lucrativos se tornava difuso.
Ao mesmo tempo, a associação alegadamente utilizou bens e serviços adquiridos em regime de doação, para realizar negócios privados com alguns dos seus administradores.
Reportagens do "Washington Post" de 2003 acusaram a associação de ter ainda beneficiado empresas com cadastro em processos de poluição, de ter permitido negócios madeireiros e petrolíferos em terrenos por si administrados e classificados como áreas protegidas; e, por fim, o jornal acusou ainda a associação de ter comprado terrenos beneficiando dos mecanismos legais favoráveis à permuta do uso de propriedade (de agrícola para ecológica), vendendo-os posteriormente a administradores da própria NC ou a empresas por eles controladas.
A investigação já produziu resultados palpáveis, ao desencadear a acção do senado e ao provocar a demissão em bloco dos quadros administrativos da NC. Nas próximas semanas, saber-se-á a que sanções concretas estará a organização sujeita.
Entretanto, a administração Bush apressou-se a revelar a necessidade de clarificar as relações por vezes nebulosas entre ONG, os seus bens e os seus benfeitores. Aguarda-se um pacote legal mais restritivo para a acção deste tipo de movimentos sociais.
Não creio que o processo pudesse ter semelhantes contornos em Portugal, e a experiência que colhi, junto de uma ONG que tratei num projecto académico, mostrou total abertura de contas e processos. Mas reafirmo que devemos olhar com natural preocupação para o processo da Nature Conservancy. Em primeiro lugar, porque creio que a gestão financeira de bens sai claramente da alçada tradicional de uma ONG; por outro lado, casos como este morrem muito depois da mera aplicação de medidas legais e têm repercussões duradouras. Quem volta a confiar nuam ONG depois de ter sido moralmente ludibriado? Como num sismo, a onda de choque demorará a fazer-se sentir.

quinta-feira, junho 09, 2005

Pongo

A propósito de grandes conferencistas científicos, de anúncios pomposos de descobertas e de falsos ídolos.

«A grande novidade em Londres é a chegada de um hóspode ilustre – o sr.Pongo. Quem é o sr. Pongo? (…) O sr. Pongo não é um príncipe, nem um general, nem um escritor, nem um descobridor, nem sequer um rabequista – é simplesmente um macaco. Mas que macaco! É um gorilha [sic]: o primeiro,o único que tem vindo à Europa! (…) Comia ordinariamente farináceos e frutas, mas ultimamente o seu guarda, tendo-lhe dado um pedaço de bife, notou que Pongo o devorava com singular apetite. Começaram a dar-lhe carne e água; come tudo o que come um gentleman: o seu almoço é como o de qualquer de nós – ovos e costoletas ao breakfast. Veio-se à conclusão que poderia beber tudo – desde Bordéus até Moet et Chandon. (…) Milhares de pessoas afluem a admirar esta espécie de homem primitivo, que há alguns mil anos era o que havia de mais perfeito na superfície da Terra, e era então o rei da Criação! Quem sabe se daqui a alguns mil anos, quando a raça humana, tal qual é hoje, tiver quase desaparecido para dar lugar a uma forma humana mais perfeita, um sábio então não encontrará, nos desertos ou nos bosques, um último homem e não virá expô-lo nalguma Londres dessa época? E os seres mais perfeitos de então virão contemplar com espanto o seu antepassado, o homem, como nós hoje contemplamos o nosso antepassado, o gorilha!” (…) Pongo até agora, dorme bem, almoça o seu beefsteak, janta sopa, roast.beef e sobremesa, fuma três ou quatro charutos por dia, palita os dentes, dorme a sesta – e faz tudo o que faz qualquer inglês, excepto ter uma opinião sobre a Questão do Oriente, o que é, penso eu, uma qualidade a seu favor

Eça de Queiroz, in "Cartas de Inglaterra"

O ovo e a galinha

(Washington, 8 de Junho) – Aparentemente, não é só em Portugal que se modificam decretos na escuridão dos gabinetes ou se promovem alterações legislativas pela porta do cavalo. Uma investigação do “Washington Post” tem dado que falar. Em causa o novo pacote legislativo da Administração Bush relativo ao mercado energético.
Inserido no amplo programa norte-americano de redução da dependência do petróleo e de contribuição para a melhoria da qualidade do ar, o novo diploma aparentemente incentiva os construtores de veículos híbridos (capazes de se moverem a gás ou etanol), oferecendo-lhes benefícios fiscais e poupando-os das multas por incumprimento de metas ambientais que, no ano passado, totalizaram 1,6 mil milhões de dólares. O projecto parecia louvável, mas uma ONG, a Natural Resources News Services, descodificou o documento para o Post e os sorrisos rapidamente desapareceram.
Como os preços do etanol e outros biocombustíveis não são ainda competitivos, a maior parte dos consumidores opta ainda pelos combustíveis fósseis. Ora o diploma não tem em conta o tipo de combustível que cada automobilista abastece. Limita-se a premiar todos os construtores que disponibilizem a opção pelo etanol a par do gás. E naturalmente é previsível que o consumidor mantenha a mesma orientação.
Todos os anos, o conusmo de gasolina no país aumenta 4%, e esta medida não travará minimamente esse crescimento. Limita-se, na essência, a poupar alguns milhares de dólares à maior parte dos construtores automóveis.
De certa forma, a polémica resume o velho enigma do ovo e da galinha. Os representantes da indústria de refinação alegam que não produzirão combustíveis limpos até haver automóveis que os usem; os construtores automóveis defendem-se, dizendo que não produzirão carros movidos a biocombustíveis sem haver um mercado competitivo de fornecimento de combustível alternativo. O público desconhece as oportunidades dos novos combustíveis ou, quando conhece, naão pretende pagar mais por isso. E deste círculo infinito ninguém parece querer sair.

terça-feira, junho 07, 2005

Comparações desonestas

(Washington, 7 de Junho)- Por muitos ressentimentos que o modelo americano gere entre as opiniões públicas europeias, há uma ideia que é genuinamente americana e universalmente aceite como geradora do conceito contemporâneo de conservação: a noção de parque natural, instituída no século XIX e disseminada pelo mundo fora, como um vírus benigno.
Esta semana, tive oportunidade de visitar o Parque Natural de Shenandoah, na Virgínia, e constatei que há uma diferença abissal entre os conceitos português e americano. Chamamos-lhe o mesmo nome, é certo, mas os pontos de contacto terminam aí.
Se me permitem o sarcasmo, o plano de ordenamento deste parque foi aprovado no mesmo ano em que ele foi instituído. Não sofreu contestação. Foi aceite e integrado no tecido social e nas regras de ordenamento local. Contei por aqui, a uma audiência divertida, as peripécias da Arrábida, mas não fui levado a sério. Tentei, mesmo assim, defender a tese de que Portugal ostenta a discutível virtude de ter gerado um novo modelo de parque: o do parque que não tem regulamentos... para ser parque. Nao acreditaram.
Esperava encontrar nesta pequena área protegida (pequena para os padrões da América do Norte) mecanismos de rendibilização económica, como sucede em Yosemite ou Yellowstone e que tantas vezes são citados pelo presidente do ICN. Ironicamente, não há exploração comercial desta área protegida ou, por outra, o parque até permite contratação de guias, disponibiliza informação adicional mediante uma pequena taxa, aluga alojamentos e por aí fora. Mas o orçamento de Shenandoah é atribuído regionalmente. Tudo o que é amealhado através do tal conceito de "área protegida potenciada" é canalizado para uma ONG que, de certa forma, gere as minúcias do parque.
Ora, apesar de ser o governo regional a custear a área protegida, não há registos de protestos. O modelo não merece discussão na Virgínia. Encontrei, entre as pessoas com que falei, um orgulho genuíno pelo privilégio de poder viver a curta distância deste espaço. Aceitam as restrições que ele exige, não fazem fogueiras, nem deitam lixo para o chão. Não constroem à revelia, não cortam árvores, nem caçam furtivamente. Não emitem despachos que pronunciem incontestáveis interesses públicos. O parque valoriza a região que, por esse privilégio, paga uma fatia do orçamento. E o modelo parace funcionar.
Naturalmente, também há ameaças. Duas, disseram-me, ambas relacionadas com doenças da modernidade. A poluição atmosférica das estradas da região afecta tremendamente a qualidade do ar em Shenandoah. E depois... há as motas. As estradas que circundam o parque e alguns caminhos pedestres são usados pela comunidade motociclística local, que testa a velocidade nestas vias. Mostraram-me um site inacreditável onde se indicam os recordes de velocidade estabelecidos em cada curva apertada, nas rampas mais acentuadas e por aí fora. Inevitavelmente, morre uma pessoa a cada duas semanas com estas brincadeiras.
Mas estes são, convenhamos, os problemas de um país sobredesenvolvido que, como uma criança que cresce sempre mais rápido do que as suas roupas, tem regularmente de encontrar soluções para novos problemas. A mensagem que pretendo transmitir nesta crónica é bem mais óbvia: citar o modelo americano de financiamento de áreas protegidas públicas sem relatar as suas especificidades é, não só desonesto, como perigoso. Porque, mesmo aqui, no paraíso do liberalismo, o Estado não abdica da tutela e da responsabilidade sobre os valores naturais. Admite que necessita de verbas para que o trabalho seja mais eficiente, mas não se demite da sua responsabilidade. Se vamos decalcar fórmulas alheias, convém, pelo menos, que atentemos em todos os elementos que as compõem.

domingo, junho 05, 2005

Cronica americana

Nao era desta forma que eu pretendia comecar as minhas cronicas em solo americano, mas circunstancias inesperadas modificaram o planeamento. Como alias o leitor verificara...
Comeco por dizer que, se fosse catolico, ja nao temeria o inferno porque estive no aeroporto de Newark e sobrevivi. A custo, mas sobrevivi.
Voo longo, na TAP, atrasado como de costume e pontuado pela tradicional exibicao de ingles macarronico do comandante. Nao sei explicar o motivo, mas nao ha comandante da TAP que nao devore silabas quando tem de balbuciar algumas frases em ingles. Ladies and gentmens. This is ycptain spking.
Nos tempos que correm, chegar a um aeroporto americano e uma proeza ousada, como ir as compras em Luanda ou assistir a um concerto dos HeartWork. De ano para ano, constato que os funcionarios da imgracao estao mais rudes, qualidade certamente cultivada no servico (os polidos nao estao no atendimento ao publico).
Perguntas da praxe. Protocolo. Ja leu Derrida? Conhece Ralph Nader? Os Suns vao ganhar o titulo da NBA? Sou obrigado a deixar a impressao dos dois indicadores para a posteridade e a sorrir para uma minicamara. Qualquer dia so me deixam entrar depois de uma exibicao de sapateado, replicando movimentos do Fred Astaire (nota mental: treinar o bater dos tacoes e pedir ao sapateiro novas salas de ferro).
Subir escadas e elevadores, Apanhar o comboio de superficie. E com tanta carruagem disponivel, tenho de partilhar a minha com o Joaquim Almeida - o actor.
Sair do comboio a sete pes. Passar para aseccao da revista de bagagens. A desorganizacao e tal que faz parecer sintonizados os funcionarios da Seguranca Social da Loja do Cidadao, em Lisboa. Tirar cinto. Tirar sapatos. Nao me enganei: parece que vou mesmo dancar sapateado para ser aprovado. Ou nao.
Confirmando por fim que nao sou um perigoso terrorista - embora a ideia de um Mujahiddin a correr desenfreado por estes corredores me pareca menos despropositada a medida que as horas passam -, la me deixam passar.
Chegar a porta de embarque. O voo de ligacao ja partiu. Arrancar cabelos as mao-cheias. Voltar a Continental para emitir novo bilhete para um voo tres horas depois.
Sou atendido por um mascador, um ser humano que rumina furiosamente uma pastilha como se nao houvesse amanha. Pausas. Incrivelmente, ele interrompe para ir buscar comida. O cheiro pestilento do sebo dos hamburgueres faz-me pensar que por esta provacao nem o pequeno Martunis passou.
Novo voo finalmente marcado. Resta (des)esperar.
A primeira reuniao ja esta perdida. Encontrar formas de passar o tempo. Ler o "Publico" de ponta a ponta, ate a cronica do Eduardo Cintra Torres -o desespero leva um homem as praticas mais abominaveis.
Compro um cartao para aceder a um destes novos terminais de Internet. Dez dolares depois, a maquina agradeceu, comeu a nota e nao se mexeu.Faco um escarceu dos diabos. Ja bem basta teclar num computador sem acentos (as minhas desculpas por esta prosa "desacentuada" que parece um original da Maria Joao Avillez antes das correccoes ortograficas).

sexta-feira, junho 03, 2005


Vila Ruiva Futebol Clube

Hilariante II


Ontem, na pacata Vila Ruiva, a caminho do Alvito, deparei com mais um dos hilariantes dichotes de parede que tanto prendem a minha atenção. Ora, em pleno Alentejo, descobri que não é só o Futebol Clube do Porto que negociou o patrocínio desportivo com a Nike. O Vila Ruiva Futebol Clube, aparentemente, também. Ou isso ou alguém se divertiu a desenhar o logotipo da multinacional americana junto ao nome do clube.