sábado, junho 04, 2016

Vinganças

Conta Eduardo Schwalbach nas suas Memórias que Dom Luís I e Mariano de Carvalho, director do Diário Popular, odiavam-se discretamente. O Popular era o jornal que mais atacava o monarca.
Um dia de 1886, já perto do final da vida, o rei teve de engolir o sapo e «confiar ao seu terrível detractor a pasta da Fazenda».
Vingou-se. Ao findar uma assinatura real a que assistia o novo ministro, o rei puxou-o de parte e perguntou-lhe se gostava de música.

— Sim, meu Senhor – respondeu Mariano.
— Então venha cá!

Durante noventa minutos implacáveis, Dom Luís torturou Mariano de Carvalho, «arrepiando os ouvidos da sua vítima com uma violoncelada quase seguida». O monarca tocava realmente mal o instrumento.


«Encantado por fora e como um urso por dentro», Mariano saiu daquela tormenta quase a espumar. «Sua Majestade voltou-se para o seu camarista e disse-lhe, esfregando as mãos de contente: — Estou vingado!»

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