Uma definição operacional de
loucura costuma ser a repetição da mesma acção e esperar um resultado
completamente diferente. No caso de
alguns fotógrafos que trabalham connosco, a definição precisa de um retoque.
Para muitos destes profissionais, a loucura passa por mover montanhas para
conseguir chegar a locais que a maioria dos mortais preferia evitar. Foi o caso
recente do Pedro Narra.
A 23 de Novembro, o vulcão
do Fogo, em Cabo Verde, despertou novamente, 19 anos depois da última grande
manifestação. Havia sinais desde a Primavera de que isso poderia acontecer
e, na última semana de Novembro, o gigante rochoso mostrou mesmo as entranhas.
Para muitas pessoas, incluindo as comunidades locais, isso implicava bater em
retirada; para o Pedro, então em serviço para a revista na Guiné-Bissau, a
erupção funcionou como as bombas-relógios nos filmes de Hollywood: era
fundamental bater o cronómetro e chegar à ilha do Fogo antes do fim da
contagem, que é como quem diz antes do final da fase mais espectacular da
actividade eruptiva.
De avião, de ferry e de jipe, Pedro Narra chegou ao
Fogo quatro dias depois. Levava apenas uma mochila, alguns mapas e o
equipamento fotográfico básico.
Esforço-me por repetir que a
maior parte das reportagens da revista implica planeamento, leituras
preparatórias, contactos exploratórios – numa frase, a rotinização do
inesperado. Infelizmente, os vulcões não avisam (ou, se avisam, fazem-no com
alertas suficientemente ambíguos), invalidando respostas mais rápidas da
protecção civil, dos fotógrafos ou do fenómeno recente dos volcano watchers, que pagam o que for preciso para assistir in loco à fúria da natureza.
Por isso, na noite de 27 de
Novembro, o fotógrafo viu-se nas imediações da fonte eruptiva, sozinho, quase às
escuras, usando a audição para se orientar. Parece o guião de um reality show, mas foi, na essência, uma
aventura genuína.
O resultado do trabalho de
campo pode ser apreciado na revista de Março e, daqui a algumas semanas, no
nosso site de Internet. Seis décadas e meia depois de um esforço semelhante do
geógrafo Orlando Ribeiro para chegar ao Fogo a tempo de presenciar a erupção do
vulcão, a revista orgulha-se de apresentar nas suas páginas… o Fogo do Fogo – um trabalho que se deve exclusivamente à loucura saudável de um excelente repórter fotográfico.
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