No dia 26 de Janeiro de 2006, saí cedo de Lisboa para
esta reportagem. Eram sete da manhã e já estava à porta da mina da Somincor em
Castro Verde. Passei o dia lá em baixo, com o Antonio Cunha e o geólogo
Gonçalo Barriga. Aproveitando o pico mundial de consumo de cobre e estanho, a
mina fervilhava de actividade. Sucediam-se explosões para abrir novos segmentos
na rocha e encontrar filões de cobre – generosos veios verdes-azeitona no meio
da rocha castanha. "São os chineses, pá. São os chineses", dizia um
dos mineiros para outro, explicando-lhe a explosão do preço do cobre que
ressuscitava a Somincor da dormência.
A pé e em camiões, estivemos lá em baixo, sob calor tórrido
e humidade, até às sete da noite. Dei por mim a pensar como consegue aquela
gente aguentar a vida na mina todos os dias. Sem ver luz. Sem ver o Sol.
Abafada por um manto pegajoso de calor que tolhe os movimentos e abafa a
resolução.
Meti-me ao caminho para Lisboa, mas quase não cheguei.
Adormeci ao volante, dei umas cambalhotas na auto-estrada e, enquanto bailava
entre faixas, falhei por um triz um carro lançado na direcção contrária. Fui
desencarcerado meia hora depois com umas amolgadelas sem repercussões.
Ontem, voltei ao Alentejo depois de mais uma
reportagem com o António. Ainda não estava a passar a ponte e recebi o
telefonema da praxe: "Compadre Gonçalo, é só para saber se chegaste bem.
Quando sais daqui, só descanso quando te sei em Lisboa..."
São assim os amigos!
Fotografia, claro está, do Antonio Cunha.
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