Já reparou o leitor que, entre os colunistas que assinam textos nos jornais sobre o traçado do TGV e a localização do novo aeroporto de Lisboa, parece só existirem representantes dos lobbies do caminho-de-ferro e da navegação aérea? Mais curioso ainda: já reparou como os inocentes colunistas que, à vez, atacam o traçado Lisboa-Porto do TGV e a Ota como destino final do aeroporto raramente assumem a sua condição activa de "lobbyistas"? São sempre professores jubilados, especialistas em sistemas informáticos, docentes universitários, historiadores, economistas ou – a minha designação favorita – juristas…
Mais irónico ainda, mas fechando o círculo na perfeição, os senhores-que-nós-conhecemos-como-activistas-dos-comboios defendem afincadamente que a melhor localização para o novo aeroporto seria a margem sul, onde se potenciariam as ligações ferroviárias para Espanha. Dizem, por isso, que a Ota é um erro histórico. E, a talho de foice, recomendam mais invesimento na adaptação da bitola aos padrões europeus, mesmo que a Espanha ainda não o tenha feito e seja, por momentos, impossível fazer com que o comboio voe sobre o território espanhol para então entrar nos perfeitos carris franceses.
Do outro lado do problema, os senhores-que-nós-conhecemos-como-activistas-dos-aviões não falam do aeroporto, mas questionam o erro (que também é histórico, segundo eles) de promover uma linha de TGV para o Porto, quando a prioridade deveria ser a linha Lisboa-Badajoz, para promover ligações entre as duas capitais ibéricas. A recomendação deste grupo de articulistas costuma ser o desinvestimento nos transportes ferroviários e marítimos em claro benefício dos transportes aéreos, eles sim, os veículos do futuro. Talvez por esquecimento, não falam das limitações correntes do tráfego aéreo e da (in)capacidade do avião para substituir em grande escala o comboio e o barco como meio de transporte de mercadorias.
E assim, lendo descontraidamente as múltiplas apreciações às duas opções de fundo do governo socialista, vai ficando o leitor português esclarecido. Como é próprio das democracias participadas.
4 comentários:
Bem visto, no meu ultimo post também falo de participação civica que se sobreponha aos lóbbyes existentes.
Não me pronunciei sobre as duas soluções, caro Solariso.. Limitei-me a comentar a ausência de diversidade nas apreciações especializadas dos jornais.
De todo o modo, o TGV para o Porto afigura-se perfeitamente redundante e, à falta de melhor fundamentação, não terá rentabilidade. Veremos daqui a uns anos o impacte real.
Caro Gonçalo,
100% de acordo
No que toca ao transporte de mercadorias nos nossos dias a canção do pouca terra, pouca terra será mais ou menos assim:
muiot fumo e quimicos, muito fumo e químicos.
Já agora que falas de transportes já viste isto???
http://www.museu-caramulo.net/figurashistoricas.htm
Abraços
http://bioterra.blogspot.com
Alguém já pensou que se o aeroporto for mesmo para a Ota os espanhois podem construir um aeroporto internacional em Badajoz a 50 minutos de TGV do centro de Lisboa?
Enviar um comentário