terça-feira, julho 19, 2005

Uma revista com três anos: sem preço

É nas férias que realizo algumas tarefas adiadas nos 11 meses anteriores. Livros que ficaram por ler, documentos (informáticos ou em papel) por triar e arquivar, jornais velhos por analisar, fotocopiar e referenciar.
Na lide doméstica, dei com uma "Visão" de há três anos (n.º 462, de 10 a 16 de Janeiro de 2002). Chamava à capa Santana Lopes e Rui Rio, recentes vencedores das autárquicas, e prometia revelar, como só a "Visão" pomposamente promete, o «que eles vão fazer».
A leitura datada é das tarefas menos apetecidas pelo jornalista, mas reserva, por vezes, brindes inesperados como estes. O que prometiam então os dois presidentes?
Santana estava entusiasmado com o cargo, mas queria saber, primeiro, quanto tinha custado a iluminação de Natal. Garantia que o túnel do Marquês estaria pronto no Verão seguinte (i.e.: Junho de 2003) e que a CML não ia dar um cêntimo ao Benfica para o novo estádio. Queria fazer um túnel ou viaduto no Campo Grande para desnivelar o trânsito. Imaginava o Terreiro do Paço como «sala de visitas da cidade, com restaurantes debaixo das arcadas e(...) hóteis de charme e o Museu dos Descobrimentos onde hoje estão os ministérios». Colocaria mais polícias na rua (mais 500) e promoveria o estacionamento em altura, convertendo prédios devolutos em silos de estacionamento...
E Rui Rio? Muito mais sensato, prometia no abstracto e idealizava no concreto. Evitava assim tropeçar nas suas próprias promessas, ele que ganhara a CM Porto surpreendentemente, porventura até para o próprio. Mesmo assim, não resistiu a assegurar que os indesejados arrumadores de rua acabariam já no final do ano (i.e.: final de 2002) e a prometer que cancelaria toda e qualquer construção no Parque da Cidade.
Memórias traiçoeiras, estas, recuperadas três anos e meio depois. Apetece dizer, como na anedota: Preço do novo casino de Frank Gehry: 300 milhões de euros; custo estimado do túnel do Marquês: 19 milhões de euros; ser embaraçado no final do mandato por uma entrevista inconveniente: sem preço...

1 comentário:

Ponto Verde disse...

Eles detestam que se tenha memória, já se sabe porquê.