terça-feira, novembro 03, 2020

Semiótica na primeira página

Público, 3 de Novembro de 2020


Ia escrever sobre outro tópico, mas chamou-me a atenção a leitura que o Luís Paixão Martins fez desta manchete do Público. "O dia da América" pode ser lido com malícia como "Odiada América". É uma gracinha que permite sempre ao jornal recuar e alegar que não foi isso que se escreveu. É o equivalente à pergunta maliciosa do advogado de acusação nas séries televisivas, que retira de imediato a questão, deixando-a porém planar sobre a mente dos membros do júri.
Estes jogos semióticos na primeira página dos jornais são populares entre os redactores há muitos anos.
No Correio da Manhã, Vítor Direito fez pelo menos três em dia de eleições (1980, 1982 e 1983), apelando discretamente ao voto sem nunca o assumir.


Correio da Manhã, 5 de Outubro de 1980



Correio da Manhã, 12 de Dezembro de 1982



Correio da Manhã, 25 de Abril de 1983

Em 2011, o Correio da Manhã e o Jornal de Notícias cederam à graçola fácil associada à polissemia do "buraco" orçamental.


 


E, nesta lista de aventuras semióticas, não poderia faltar a primeira página que José Manuel Fernandes preparou maldosamente no dia em que o Tribunal da Relação absolveu Paulo Pedroso do crime de pedofilia.



Na essência, são pouco mais do que graffiti anónimos numa parede. Mas fazem estragos.




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