segunda-feira, dezembro 19, 2016

Manuela de Azevedo na JJ


«A jornalista respira fundo ao entrar na cozinha. O nome do cozinheiro foi o seu cavalo de Tróia, o estratagema para obter acesso até à intimidade do homem que, durante um mês, fora rei em Itália e se vira obrigado ao exílio depois de um referendo ter dado vitória esmagadora à solução republicana. Enquanto troca palavras confusas com o cozinheiro, procurando congeminar um plano que justifique a sua presença na Quinta da Piedade, aproxima-se o rei, recém-chegado dos seus passeios higiénicos pela serra. Olha-a com curiosidade, de bengalinha na mão, e avança. Manuela de Azevedo poderia ter confessado logo ali o seu propósito: queria entrevistar o soberano que recusara os esforços de toda a imprensa europeia desde que chegara a Portugal uma semana antes. Queria mostrar aos camaradas do Diário de Lisboa que era tão destemida como eles. Num ápice, porém, o rei avançou e a oportunidade esfumou-se.»


Excerto do artigo que publico na "Jornalista e Jornalistas" deste mês, disponível aqui.

Ilustrações de Draftmen.

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