«A jornalista respira
fundo ao entrar na cozinha. O nome do cozinheiro foi o seu cavalo de Tróia, o
estratagema para obter acesso até à intimidade do homem que, durante um mês,
fora rei em Itália e se vira obrigado ao exílio depois de um referendo ter dado
vitória esmagadora à solução republicana. Enquanto troca palavras confusas com
o cozinheiro, procurando congeminar um plano que justifique a sua presença na
Quinta da Piedade, aproxima-se o rei, recém-chegado dos seus passeios
higiénicos pela serra. Olha-a com curiosidade, de bengalinha na mão, e avança.
Manuela de Azevedo poderia ter confessado logo ali o seu propósito: queria
entrevistar o soberano que recusara os esforços de toda a imprensa europeia
desde que chegara a Portugal uma semana antes. Queria mostrar aos camaradas do
Diário de Lisboa que era tão destemida como eles. Num ápice, porém, o rei
avançou e a oportunidade esfumou-se.»
Excerto
do artigo que publico na "Jornalista e Jornalistas" deste mês,
disponível aqui.
Ilustrações de Draftmen.
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