Nos 13 anos e meio que a edição portuguesa
da National Geographic já leva (num pouco mais de 160 edições), não escondo que
tínhamos uma obsessão desde o primeiro número. Se a revista é identificada
maioritariamente pela capacidade da sua fotografia de natureza, tínhamos
“obrigação” de mostrar, um dia, o maior carnívoro da nossa fauna terrestre em
imagens obtidas em ambiente selvagem. Algum dia teríamos de mostrar o
lobo-ibérico em território nacional, sem recurso a imagens de cativeiro, sem
engodos, domesticações forçadas ou outros truques. Só o lobo no ambiente
nortenho ao qual, teimosamente, a espécie se arreiga. Esse dia foi hoje, com a
publicação da revista de Setembro e eu não poderia estar mais contente.
A história desta reportagem, assinada pelo
fotógrafo notável que é o João Cosme, encerra também um longo capítulo de
tentativas que, apesar da boa vontade de outros nomes da fotografia portuguesa,
nunca chegaram a bom porto. Um dia, há quase dez anos, apareceram-nos sem
grandes explicações três/quatro imagens excelentes, mas desgarradas de qualquer
história. Tinham o mesmo valor que um fóssil de dinossauro retirado do contexto
paleontológico e vendido avulso no mercado: eram curiosidades com pouco valor
intrínseco.
Noutras ocasiões, debatemos se valeria a
pena recorrer a imagens de cativeiro para ilustrar ideias válidas e urgentes de
reportagem, procurando sublinhar que os valores de conservação associados à
espécie tinham mais urgência do que as necessidades jornalísticas. Debalde.
Pontualmente, chegava uma fotografia solta.
E a proposta ingénua de que, com ela, “fizéssemos alguma coisa sobre o lobo”. Vou
ganhando cabelos brancos (muitos, aliás) enquanto tento explicar que a construção
de uma reportagem é mais complexa do que isso. Exige um guião, por norma
desenhado antes da partida do terreno. Exige background científico. Exige planeamento. E, depois disso tudo,
exige sorte e dinheiro.
Na Primavera deste ano, com simplicidade
desarmante, como se anunciasse a previsão meteorológica, o João Cosme falou
connosco. Explicou-nos que acompanhava uma equipa do CIBIO no terreno, no Alto
Minho português, e que tinha captado fotografias... bonitas. Resumiu o projecto
científico que acompanhava e a proximidade tremenda de que beneficiava face aos
animais. Na voz, deixava transparecer a alegria de um contacto há muito
desejado porque, na ocasião, não era o João Cosme jornalista que falava. Era o João Cosme naturalista.
Admito que não acreditei à primeira. Afinal, como na fábula, já se gritara em vão pelo "lobo" no passado. Depois, vi a galeria. E desfiz compromissos assumidos (desculpa, Gonçalo!) para publicar a
reportagem na primeira ocasião disponível.
Cada jornalista é um caso e há
personalidades para todos os gostos. Já vi galerias banais apresentadas como se
se tratasse do espólio perdido de Cartier-Bresson. Já vi reportagens falhadas,
“totalmente” ao lado do guião inicial, re-empacotadas como um êxito tremendo da
perseverança. Já vi golpes de sorte, frutos esporádicos da deusa da fortuna,
transformados em odes ao planeamento. E depois há casos como o do João, que quase
pede desculpa por apresentar fotografias inéditas de lobo-ibérico.
Os leitores que nos acompanham nas redes
sociais e no nosso site terão paciência, mas, à moda de Sophia, esta é a
reportagem que eu esperava. E por isso, excepcionalmente, tê-la-ão de ler na
revista, no formato nobre para o qual ela foi construída, porque tão cedo não a
colocaremos em suporte digital gratuito.
Julgo que o trabalho incansável do João, e
a tremenda perseverança da equipa científica do professor Francisco Álvares, da
Helena Rio-Maior e demais especialistas que nos ajudaram neste empreendimento,
merecem-no.
3 comentários:
Parabéns !!
O João está mais uma vez de parabéns ao se desmarcar de forma notável e admirável.
Parabens João pelo trabalho. Continua assim. Força.
Renato
Tudo muito romántico e muito Typical Portuguese,bastante vergonhosa as formas como se tratam determinados temas e como se atribuiem meritos aonde nao os há.Quanto á reportagem tem o seu mérito por ser a reportagem que é,quanto à limpeza da mesma (tal como voce se refere no texto),ponho as minhas duvidas e por uma simples razao e nao quero com isso menosprezar o trabalho de Joao Cosme,pois sei como funciona este tipo de actividades,mas para evitar equivocos e que as medalhas sejam distribuidas sempre aos mesmos e pelos mesmos devo uma explicaçao.
A verdade é que nao tem mérito fazer uma reportagem sobre lobos quando se poem o lobo á frente do fotógrafo e neste caso sei que assim foi,pois a loba da reportagem que se chama Vermelha porque é a femea Alfa da Alcateia da Cruz Vermelha da P.P. do Corno do Bico e que é portadora de um colar GPS que dá a localizaçao geográfica cada 2 horas com o qual a foi fácil dar com ela se existe informaçao priveligiada (O que houve), e se perguntarao a voces mesmos "Que diz este tipo?",pois digo que foi assim,pois eu mesmo sem ajuda de informaçao priveligiada em Abril de 2013 descobri a Vermelha depois de lhe ter posto a vista em cima dos rastros e ter dispendido 6 días de espera e incertidumbre,que por fim deu frutos,pois alem de ter fotografado a loba gravida com o seu respectivo colar de GPS e haver feito um video,tambem fotografei e filmei outros elementos da manada,material que cedi ao responsavel do P.P. do Corno do Bico o sr. Mario Pedro que apos haver-se posto em contacto com o sr. Francisco Alvares chefe da equipa da cibios e com a sra. Helena Riomaior,biologa e responsavel pelo seguimento de lobos no Alto Minho,estes srs proibiram-me determinatemente de fazer fotos nos territorios que eles tinham lobos monitorizados e dada a minha negativa de ceder a tal orden tive serios problemas com eles,mas a verdade é que eu nao fui portada de revista nem me importa,mas a informaçao que tenho sobre os lobos tanto no Corno do Bico,como na Peneda é fruto do meu conhecimento sobre a fauna Ibérica
Ainda tenho em meu poder a troca de emails entre o sr Mario Pedro e eu,quando ele me fazia chegar as birrices dos dois biólogos da cibios,pois havia interesse que o Joao Cosme fosse o primeiro a fazer reportagem sobre Lobos em Portugal e tenho pena por ele,mas nao foi assim...eu fui o primeiro e fruto da minha sabidoria e conhecimento que vem desde Africa sobre fauna e flora e muitos días de verao,outono,inverno e primavera a dormir em serras em solitario.
Muito boa noite
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