segunda-feira, março 26, 2007

Os embargos e as fontes

Admitamos que a reputação jornalística não está propriamente nos píncaros. Reconheçamos também que parte da carga negativa que nos albardam ao lombo até é justificada por deficientes práticas profissionais nos vários suportes. Mas admitamos como válido o princípio de que parte da cruz não nos cabe a nós transportar.
A relação com as fontes é um bom exemplo. Pontualmente, pedem-nos o embargo da informação – o cumprimento de um período de silêncio antes da divulgação noticiosa. Para a fonte, o embargo pode ser uma estratégia que a distancie do evento e assim garanta a sua “inocência” quando se apontarem dedos à indiscrição. Pode ser também uma forma de melhor controlar o início do ciclo noticioso de uma informação, canalizando-o para o dia da semana que potencialmente sirva melhor a causa. Pode ainda ser uma ferramenta útil para condicionar a discussão de um tópico já na agenda, fortalecendo ou enfraquecendo o caudal noticioso num dia específico em que se prevê que o assunto já esteja na forja.
Não é costume os jornalistas quebrarem o embargo. Há sempre uns mais garganeiros do que outros, mas normalmente o embargo é cumprido com escrúpulos, na medida em que o desrespeito pelo acordo estabelecido com a fonte poderá significar o silêncio na próxima ocasião. E esse é um risco que poucos querem correr.
Recentemente, aconteceu-me o contrário. Forneceram-me informação exclusiva sob promessa solene de divulgação em determinada data. Acedi de bom grado: as vantagens compensavam o inconveniente de condicionar o meu calendário pelo dos outros. A «cacha» está para os jornalistas como o oásis para o explorador do deserto: é a obsessão, a motivação que nos leva a caminhar.
No domingo à noite, vejo num dos telejornais, tintim por tintim, toda a minha história – os mesmos dados, os mesmos gráficos, as mesmas interpretações. Tudinho! O embargo, afinal, era meramente indicativo. O exclusivo, afinal, era um mal entendido. A culpa, claro, deve ser do jornalista. Percebeu mal, coitado!

2 comentários:

Anónimo disse...

A história não é, infelizmente, nova. Em nenhum meio de comunicação social, creio. O acordo de cavalheiros nem sempre é respeitado, e normalmente quem se dá mal é o jornalista/meio — ou porque publica um notícia que já não é novidade, ou (se ainda for a tempo) porque fica sem história para publicar.
O prevaricador (gosto do nome) fica com a porta fechada no meio, mas por essa altura já fez as contas todas à vida e correu o risco.
Por decoro, presumo, não revelas o nome da fonte e o tema do artigo. Mas fica a curiosidade…
Abraço.

Eugénio Queirós disse...

Quem vai à guerra...