sexta-feira, setembro 29, 2006

Os Erros do "Público"


Nota prévia: o “Público” foi sempre o meu jornal. Mesmo quando trabalhei na Global Notícias, editora de títulos diários concorrentes, não abdiquei da companhia diária daquele que é, para mim, (ainda) o melhor jornal diário generalista. Este artigo não deve por isso ser apreciado como um ataque da concorrência ou um golpe baixo com intenções menos claras. Trata-se, tão-somente, de uma recolha realizada por um leitor decepcionado com a quebra de qualidade do seu jornal.

Objectivo: durante o mês de Setembro de 2006, analisei cuidadosamente o jornal “Público”. Pela leitura ao longo dos meses anteriores, tinha a percepção de que o jornal vinha acumulando erros de conteúdo. Não dispunha, porém, de uma ferramenta válida para o afirmar. Assim, durante 30 dias, li o jornal de fio a pavio e recolhi todos os erros identificados, todas as acusações, todos os desmentidos. A percepção inicial não me iludira: em 30 dias, recolhi 40 trechos diferentes.

Metodologia: foram excluídos todos os suplementos e revistas do jornal. Após recolha, cataloguei os recortes em cinco categorias diferentes, a saber:
Categoria 1 – O Público Errou. Reconhecimento de erros factuais por parte da redacção.
Categoria 2 – Publicação de Direitos de Resposta
Categoria 3 – Publicação de Direitos de Resposta com contra-resposta do jornal
Categoria 4 – Cartas de leitores contestando o conteúdo
Categoria 5 – Outras secções (p.e.: trocas de críticas entre leitores ou articulistas, notícias que dão conta de processos-crime contra o jornal sem publicação de direito de resposta…)
Naturalmente, reconhece-se que nem todas estas circunstâncias correspondem a erros de que o jornal se deve envergonhar. A correcção de enganos até é uma das virtudes do “Público”. Mas a profusão de tantas questiúnculas num espaço de tempo condensado afigura-se sintomática de uma perda gradual de padrões de qualidade do jornal e dos seus editores.

Os resultados: (clicar no link para melhor leitura e ampliar se necessário)

Observações: Não pretendo, longe disso!, embaraçar o “Público”. Mas não é normal que a mesma edição acumule dois “Direitos de Resposta”, um reconhecimento de erro factual e duas cartas de leitores – uma criticando um articulista e outra reconhecendo o erro do próprio leitor (edição de 2/9).
Isoladamente, esse registo teria um peso relativo, mas verifica-se, pela tabela anexa, que ela se insere numa tendência mais vasta. Ao longo de um mês, o “Público” corrigiu 17 erros de conteúdo. Num dos casos (edição de 24/9), ironicamente, o próprio desmentido errou outra vez, ao corrigir o nome de um advogado anteriormente referido (Gil Moreira dos Santos) por outro (Mário Pereira), quando o nome do causídico é… Mário Figueiredo.
Sublinho que a maior parte dos erros são pequenos lapsos factuais: um nome truncado, um valor errado, uma unidade mal atribuída ou uma tradução pouco cuidada de uma informação original em língua estrangeira. Em bloco, porém, comprovam que, a cada duas edições, o jornal erra um facto. A performance deve forçosamente merecer reflexão.
Termino com uma nota sobre a publicação de “Direitos de Resposta com Contra-Resposta”. A prática não é obviamente ilegal, mas afigura-se pouco digna e deveria ser encarada como uma excepção. O jornal utilizou-a três vezes.
Pessoalmente, considero que, se o jornal já teve oportunidade de frisar a sua posição na notícia original, deve dar oportunidade ao contestatário de lavrar o seu protesto sem perturbação. Excepcionalmente, quando o “Direito de Resposta” contrariar totalmente a posição do jornal, admito necessidade de recolocar os pontos nos ii. O “Público”, porém, parece utilizar a prática com regularidade.
No dia 8/9, os autores do projecto do Silo do Combro protestaram com o jornal, alegando que o seu projecto não fazia parte do portefólio da Experimenta Design. O jornal reconheceu o erro, mas sentiu necessidade de acrescentar os motivos pelos quais integrara o projecto na notícia.
No dia 15/9, um leitor questionou uma notícia de ciência, argumentando que a tese mencionada na notícia era apenas isso – uma tese - e que, como tal, deveriam ter sido apresentados teses contraditórias. O jornal reconheceu, mas sentiu necessidade de dizer que não o fez por questões de espaço.
No dia 18/9, um professor de matemática contestou um editorial do director do “Público” sobre o ensino da disciplina no mundo. José Manuel Fernandes respondeu, em missiva quase tão ampla como a crítica. Em três quartos do texto, deu razão ao queixoso. Nas últimas linhas, inexplicavelmente, reafirmou a mensagem do seu editorial, baseado reconhecidamente em dados mal interpretados.

Conclusão: O “Público” continua a ser o meu jornal. Erra como todos e até dá a mão à palmatória com mais frequência do que os restantes. No entanto, as notícias recentes sobre diminuições de efectivos (mais ainda!) assustam este leitor, na medida em que vão implicar maior sobrecarga de trabalho sobre os jornalistas restantes e consequentemente a margem de erro aumentará. Cabe perguntar: esta amostra é representativa do “estado” do jornal? Com toda a sinceridade, não sei.
Espero que não.

13 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo "clipping" mostrando que nem tudo irá bem pelo Público! O ataque descabelado(pessoal?) que o JMFernandes, em editorial de 29/09/2006, faz ao novo presidente do STJ poderá ser outro sintoma.Inqualificavel...

Anónimo disse...

Cheguei aqui vindo do Indústrias Culturais, que menciona o seu blogue.
Não faço nem metade das reservas que coloca. Para mim, o Público está de facto em queda livre. Estes números são um claro indício disso.

Anónimo disse...

Gosto desta gente que é tão categórica com os outros e não olha para o seu umbigo.

Gonçalo Pereira disse...

Enigmático, caro anónimo. Enigmático.

Anónimo disse...

Não é enigmático, caro Gonçalo. Achei o post pretensioso e com intenções pouco claras. Conheço o género. Mas ainda bem que lhe sobra tempo para esse tipo de «estudos». Mas veja lá, não descure o «resto». Fiz-me antender?

Gonçalo Pereira disse...

Antendido, caro anónimo. Antendido!

Anónimo disse...

Ó Miguel deixa-te de coisas...

Anónimo disse...

Belíssima análise! Uma coisa é atacar, criticar, insultar sem dados (como aliás faz o segundo anónimo). Outra, bem diferente, é criticar com fundamento. Parabéns.

Anónimo disse...

Ai a falta de humor Gonçalo. Isso dá cabo de ti rapaz...

Gonçalo Pereira disse...

Pelo contrário, Miguel. Considera o post sobre a VM uma piscadela de olhos irónica.

Anónimo disse...

Sorry, só vi agora. É boa a piada. Queria perguntar-te uma coisa , posso pedir o teu mail ao PR?

Gonçalo Pereira disse...

Faz favor.

Anónimo disse...

O ADVOGADO DE PINTO DA COSTA

Gil Moreira dos Santos da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados e ex Juiz do Tribunal Plenário do Porto

Correio da Manhã de 24 de Julho de 2007-07-24

Gil Moreira dos Santos, o conhecido advogado do Porto que defende, entre outros, Pinto da Costa e Nuno Cardoso, respectivamente presidente do FC Porto e ex-presidente da autarquia portuense, foi acusado pelo Ministério Público da mesma cidade de ofensas corporais simples a um advogado.

Segundo a acusação, a que o CM teve acesso, o causídico terá agredido um “ex-amigo”, com quem há muitos anos se desentendera, quando ambos desempenhavam funções no Conselho Distrital da Ordem dos Advogados.

Os incidentes aconteceram a 30 de Setembro de 2006, na Rua de João de Barros, na Foz do Porto, quando ambos se travaram de razões. “O arguido, mantendo sempre o ofendido agarrado pelo braço direito, empurrou-o contra a viatura e deitou-lhe as mãos às orelhas, puxando-lhas, ao mesmo tempo que lhe virava a cabeça, com um movimento rápido, o que fez com que o ofendido perdesse os sentidos e caísse inanimado no chão”, pode ler-se na acusação agora deduzida, onde o Ministério Público afirma que a vítima sofreu traumatismos nos ouvidos e na coluna, que o obrigaram a receber assistência hospitalar.

A vítima terá sido abandonada no local, sofrendo prejuízos de mais de 1000 euros (os óculos e o telemóvel que usava ficaram partidos).

Contactado pelo CM, Gil Moreira dos Santos desligou o telefone, sem sequer ouvir as acusações que sobre si recaem.