segunda-feira, agosto 19, 2013

Outros tempos


Houve um tempo em que era possível juntar quatro craques da bola numa fotografia sem ter de pedinchar autorizações aos clubes e aos empresários — os únicos agentes conhecidos vendiam seguros. Sem ter de mendigar autorização à Federação para usar o relvado do Jamor. Sem ter de negociar acordos imbecis com o X, que só vai se o Y não for porque ele é patrocinado pelo sponsor rival, com o W, que só vai se a fotografia for tirada exactamente a meia distância entre o Porto e Lisboa, ou com o Z, que até gostava de aceder, mas está impedido pelo presidente de confraternizar.
Era o tempo dos bigodes farfalhudos e dos cabelos cortados no barbeiro uma vez por mês. Das camisolas pirosas, justas e iguais para todos. Dos equipamentos sem nomes de patrocinadores e iguais de ano para ano. Das bancadas de cimento, sem nomes de cervejas. Das botas pretas e indistintas, sem tons dourados ou amarelos. Das bolas que ensopavam com a chuva. Dos jogadores tratados pelo apelido. E sobretudo dos craques como Nené, Costa, Oliveira e Matos, que não amuavam, nem remetiam os jornalistas para as suas páginas de Facebook e Twitter.

Gazeta dos Desportos, Setembro de 1981. 
(A fotografia deve ser do Lobo Pimentel, mas não juro.)

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