Prezada Dra. Fernanda Asseiceira,
Na qualidade de director da edição portuguesa da revista National Geographic, fui membro do júri que, em Maio deste ano, atribuiu ao concelho a que V. Exa. preside, o prémio Progeo 2010. Trata-se, como sabe, do galardão destinado a premiar o município que mais faz pela promoção do património geológico no nosso país.
Notará, pela acta dessa reunião, que o prémio foi então atribuído por unanimidade pois todos os membros do júri consideraram que o Carsoscópio – Centro de Ciência Viva do Alviela (CCVA) era uma infra-estrutura incomparável, uma aposta decidida da vila de Alcanena no sentido de dar a conhecer o seu património natural, utilizando novas tecnologias, percebendo a importância da linguagem descomplexada na comunicação com o público e assimilando as especifidades da nascente do Alviela na sua oferta cultural, o que tornou este Carsoscópio um dos mais extraordinários Centros de Ciência de Viva do nosso país.
Os números disponibilizados pelo CCVA na Internet são aliás reveladores da resposta que o país está a dar a esta infra-estrutura ímpar no concelho e na região: são 48 mil visitantes em cerca de dois anos. Sabendo que o Centro tem uma capacidade máxima diária de 300 visitantes, em função dos limites naturais dos dispositivos colocados à disposição dos visitantes, percebemos que o Carsoscópio está a cumprir a função que lhe foi atribuída e a justificar os 2,8 milhões de euros que custou no final de 2008.
Voltei hoje a visitar o Carsoscópio, cinco meses depois da atribuição do prémio, e é com mágoa que noto que esta infra-estrutura, promovida pela Câmara Municipal de Alcanena no mandato do seu antecessor, está urgentemente carente de manutenção. Os magníficos dispositivos multimedia concebidos pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria continuam no local, mas muitos já não funcionam, sobretudo no quiroptário, uma das três unidades que compõem o Carsoscópio.
O dispositivo auditivo para escutar os morcegos está mudo. O dispositivo térmico para sentir a amplitude de temperaturas vivida pelos animais está avariado. As experiências de ecolocação para “ver” o mundo como os morcegos estão também fora de serviço. Igualmente avariado está o aparelho para avaliar o peso do alimento diário de um morcego, que fazia há alguns meses a alegria dos jovens visitantes, ao calcular o alimento que um ser humano teria de comer de forma a conseguir ingerir metade do seu peso num único dia. A visita continua a ser agradável, mas a sensação que ali se transmite é a de um Centro de Ciência Viva que lentamente vai perdendo o viço.
Asseguro que são pequenas reparações, pouco onerosas face ao investimento inicial e estou certo de que V. Exa. ainda não tomou conhecimento da sua necessidade. Mas a verdade é que o visitante abandona a visita ao Carsoscópio incrédulo com esta estranha aposta em turismo cultural que, menos de dois anos depois da inauguração, parece deixada ao abandono, sem manutenção nem cuidado, apesar do profissionalismo e boa disposição dos guias.
Não quero nem devo acreditar que o desleixo da manutenção se possa dever ao facto de esta obra ter sido inaugurada no mandato anterior. O Carsoscópio – Centro de Ciência Viva de Alcanena não pertence a um edil ou a um partido. Pertence a todos os alcanenenses e a todos aqueles que querem usufruir, por uma hora e meia, da sensação reconfortante de estar no interior de um espaço cultural moderno e actualizado, ao nível ou melhor do que vemos nos outros países da União Europeia.
Tomo a liberdade de dar conhecimento desta carta aberta a V. Exa. ao Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, à Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria e à Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, parceiros do projecto desde a primeira hora.
Certo de que V. Exa. tomará as providências necessárias para restaurar a configuração original do Carsoscópio – Centro de Ciência Viva do Alviela e que este voltará a ser um pólo dinamizador do turismo no concelho desta vila, aceite os meus melhores cumprimentos.