terça-feira, janeiro 29, 2019

Concedendo um ponto – um esclarecimento.


Há cerca de dois anos, publiquei na Planeta o livro O Inspector da PIDE que Morreu Duas Vezes. Uma das crónicas abordava a publicação de notícias sobre Portugal e o Futuro,o livro de Spínola. Explicava em pormenor as circunstâncias em que o livro foi editado pela Arcádia, com intermediação de Paradela de Abreu e revisão de António Valdemar. 
Na sexta-feira, 22 de Fevereiro de 1974, o livro chegou às livrarias e foi criada uma artimanha para ludibriar Raul Rego e Vítor Direito na redacção do República, de forma a que o jornal vespertino publicasse um comentário abrangente sobre as implicações do livro, com direito a manchete. Álvaro Guerra e Ribeiro dos Santos foram providenciais nesse golpe de prestidigitação, que resultou.
Até aqui, tudo certo.
No dia seguinte, um sábado, o Expressopublicou duas páginas sobre o livro, igualmente articuladas com Valdemar, Ribeiro dos Santos e Francisco Balsemão. E eu refiro no livro que, a partir daí, caiu um manto de censura sobre o caso, pois não foram autorizadas mais referências ao livro, com excepção de uma peça muito curiosa da Seara Nova, com uma entrevista fictícia a Spínola publicada quase um mês depois e escrita pelo Fernando Correia, entretanto já preso em Caxias.

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Um dos mestres do jornalismo, o Daniel Reis (que faz o favor de ser meu amigo), enviou-me uma amabilíssima nota de leitura. Entre muitos elogios, o Daniel referiu que tinha memória de descer as escadas do Diário de Lisboaa ler uma recensão de Portugal e o Futuro, o que implicava que o jornal da Luz Soriano teria também feito referência ao caso. «Lembro-me de ter sido o Avelino Rodrigues a tratar da coisa. E eu, lendo a manchete do DL, ao descer da redacção que era lá acima do Ritz, junto ao Parque Eduardo VII, comentar com os meus botões e sobre o meu recente professor de Direito Administrativo: 'Já marchaste'.»
É aqui que começa a moscambilha. Na Fundação Mário Soares, não existe o mês de Fevereiro de 1974 na colecção do Diário de Lisboa. Na Biblioteca Nacional, a colecção dá um salto inexplicável de 22 para 24 de Fevereiro. Assumi levianamente que não havia portanto referências do jornal ao caso.
Só na Hemeroteca de Lisboa existe a colecção completa. Consultada agora, lá figura, na edição de sábado, dia 23, uma curta recensão não assinada com todas as implicações do livro. 
Fica feita a reparação. O Diário de Lisboa também compreendeu rapidamente as implicações do livro e publicou-as.
Um forte abraço para o Daniel!

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