quarta-feira, novembro 29, 2006

Um ano

Um ano depois da entrada de novos proprietários, ninguém melhor do que o grande Fialho de Almeida para descrever a pândega que para ali vai:

«Não está um caso bonito? O pobre diabo sarabandeando os neurónios, listrando d’amarelo e vermelho as calças dos períodos, aparando os calos dos tropos, pondo barretininhas de chifre na cabeça marcial dos adjectivos, enfileirando páginas, coitado, um ano preso à banca do suplício, a recoser-se, a derreter para ali os torresmos da psicologia e da sintaxe - sujeito aos juízos deprimentes da turba, à popularidade insultante da rua, às insolências invejosas da crítica - e tudo isto para afinal do licoroso melão comer apenas as cascas, e toda a pitança da polpa cantar no buxo do agiota irónico que o edita!»

De fora, não fosse a tragédia de ver o gigante colapsar com uma crise de soluços, à mercê de uma qualquer fisga de ocasião e infligindo golpes absurdos na sua própria couraça, eu riria a bandeiras despregadas. Melhor seria se o gigante se visse livre das fístulas que lhe infectam a pele e lhe toldam a mente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Seis mil em banca, onze mil em banca, sic transit gloria mundi. O cabeça de platina é que sabe. Craque é assim...

Ponto Verde disse...

Um obrigado pelas sugestões literárias.