A
tradição da mentira de Primeiro de Abril (o poisson de Avril) é antiga na
imprensa portuguesa. Durante várias décadas, foi tratada como uma tradição
nobre, com espaço alargado na primeira página e recursos estilísticos
requintados para convencer o leitor.
Da
colecção que recolhi há alguns anos, destaco o concertista que tocava fagote só
com o nariz (DN, 1870), o desmoronamento do Aqueduto das Águas Livres (DL,
1934), o monstro marinho capturado em Pedrouços (DL, 1936) ou um novo rei
português, Dom Teodósio, descoberto nos arquivos da Torre do Tombo (DN, 1992).
Diário de Lisboa, 1934 |
Diário de Lisboa, 1936 |
Diário de Notícias, 1992 |
Por
vezes, a mesma mentira foi repetida, inadvertidamente, por mais do que uma
publicação. Em 1896, A Vanguarda e o
DN insistiram que Gungunhana fugira do forte de Monsanto, matando vários
guardas.
Noutras
ocasiões, os foliões brincaram com o fogo. Em 1909, A Vanguarda arriscou anunciar que João Franco e Dom Miguel de
Bragança tinham voltado a Lisboa para impor ao rei um novo ministério. O jornal
foi querelado no dia seguinte.
A minha
história favorita? A mentira cruzada do Diário
de Lisboa e da RTP em 1965. O jornal prometeu que a televisão promoveria
nessa noite a primeira emissão a cores, desencadeando uma corrida aos
televisores e uma chuva de telefonemas de protesto no Lumiar, quando os
espectadores constatavam que a "sua" emissão não fugia ao tradicional
preto-e-branco. Vingou-se a estação, prometendo aos espectadores que o Diário de Lisboa do dia seguinte seria
pela primeira vez na sua história impresso a quatro cores e os leitores
deveriam insistir no seu ponto de venda para lhes darem o jornal colorido.
Diário de Lisboa, 1965 |
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