quarta-feira, março 28, 2007

Renováveis, Mas Não Fotografáveis





Num congresso recente de energias renováveis em que participei, um dos oradores – representante, julgo eu, da energia solar – queixou-se da escassa importância que os media atribuem às novas fontes de energia. Escuto esta crítica amiúde e invariavelmente recordo as palavras de um dos primeiros editores com quem trabalhei, que vetava categoricamente a maior parte das histórias sobre energia eólica ou solar (energias renováveis, há dez anos, "eram" só essas. Pelo menos, aos olhos dos media). "Quem viu uma turbina viu todas! Quem viu um painel já não quer ver mais nenhum."
Esta lógica simplista encerra alguma injustiça, mas penetra no centro da discórdia entre jornalistas e peritos. As prioridades de uns não correspondem às dos outros, e as novas/velhas tecnologias de produção de energia são, de facto, limitadas do ponto de vista visual. As suas imagens são normalmente maçadoras e repetitivas. E, no alinhamento dos jornais ou telejornais, passam muitas vezes para segundo plano.
Voltei a lembrar-me desta controvérsia com as notícias de hoje sobre a central fotovoltaica de Serpa, a maior do mundo. Por muitas voltas que os repórteres fotográficos deram à perspectiva ou ao ângulo, os resultados foram estes. Cumpriram a função, sem entusiasmar. Imagino que o velho Álvaro tenha acordado hoje a barafustar: "Painéis, painéis. Quem viu um viu todos!"

segunda-feira, março 26, 2007

Os embargos e as fontes

Admitamos que a reputação jornalística não está propriamente nos píncaros. Reconheçamos também que parte da carga negativa que nos albardam ao lombo até é justificada por deficientes práticas profissionais nos vários suportes. Mas admitamos como válido o princípio de que parte da cruz não nos cabe a nós transportar.
A relação com as fontes é um bom exemplo. Pontualmente, pedem-nos o embargo da informação – o cumprimento de um período de silêncio antes da divulgação noticiosa. Para a fonte, o embargo pode ser uma estratégia que a distancie do evento e assim garanta a sua “inocência” quando se apontarem dedos à indiscrição. Pode ser também uma forma de melhor controlar o início do ciclo noticioso de uma informação, canalizando-o para o dia da semana que potencialmente sirva melhor a causa. Pode ainda ser uma ferramenta útil para condicionar a discussão de um tópico já na agenda, fortalecendo ou enfraquecendo o caudal noticioso num dia específico em que se prevê que o assunto já esteja na forja.
Não é costume os jornalistas quebrarem o embargo. Há sempre uns mais garganeiros do que outros, mas normalmente o embargo é cumprido com escrúpulos, na medida em que o desrespeito pelo acordo estabelecido com a fonte poderá significar o silêncio na próxima ocasião. E esse é um risco que poucos querem correr.
Recentemente, aconteceu-me o contrário. Forneceram-me informação exclusiva sob promessa solene de divulgação em determinada data. Acedi de bom grado: as vantagens compensavam o inconveniente de condicionar o meu calendário pelo dos outros. A «cacha» está para os jornalistas como o oásis para o explorador do deserto: é a obsessão, a motivação que nos leva a caminhar.
No domingo à noite, vejo num dos telejornais, tintim por tintim, toda a minha história – os mesmos dados, os mesmos gráficos, as mesmas interpretações. Tudinho! O embargo, afinal, era meramente indicativo. O exclusivo, afinal, era um mal entendido. A culpa, claro, deve ser do jornalista. Percebeu mal, coitado!