terça-feira, setembro 13, 2005

Responsabilidade na Blogosfera

Há semanas, ao consultar o blogue A Sul, deparei com um "post" interessantíssimo, onde se procurava ponderar as vantagens e desvantagens da construção do centro de estágios do Benfica no Seixal, em terrenos parcialmente inseridos em Reserva Ecológica. Não comentarei neste espaço a minha opinião particular sobre esse projecto em si, apadrinhado pela câmara local e com contrapartidas urbanísticas muito concretas. Para o caso, interessa-me apenas relatar o que se passou a seguir.
Pelo que dei conta, o blogue foi positivamente assaltado por leitores anónimos. Em 31 comentários, apenas dois estavam assinados com o nome do autor [um deles era meu]. Os restantes eram anónimos ou (ab)usavam de "nicknames".
Não contesto o princípio de utilização de alcunhas ou diminutivos na blogosfera. Parte do fascínio deste mundo virtual é precisamente a informalidade inerente à multiplicação de personalidades. Mas, como em tudo, há forçosamente fronteiras que deveriam ser respeitadas.
O insulto e a difamação também se escondem sob o manto dos "nicknames" ou do anonimato cobarde, que permite lançar pedras escondendo virtualmente a mão de quem as lançou.
No longo rol de acusações partidárias e desportivas [houve quem julgasse o citado projecto à luz da rivalidade Benfica-Sporting!?!] que ali foram escarrapachadas, há interesses institucionais bem evidentes e foi seguramente por isso que as vozes mais agressivas se mantiveram discretamente na turba.
Em "Júlio César", Shakespeare argumenta que os cobardes morrem várias vezes antes da sua morte, enquanto o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez. Não partilho o optimismo. É que Shakespeare não conhecia a blogosfera, o novo espaço público onde responsabilidade e anonimato caminham de mão dada.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Agulhas Acertadas

Não escondo a discordância com o modelo de gestão da rede de áreas protegidas proposto por João Menezes, então ainda como economista renomado. Mas é de legítima justiça elogiar o actual presidente do Instituto da Conservação da Natureza (ICN), que navegou, seguro, num mar de instabilidade política ao longo destes dez meses de mandato. Escolhido pelo executivo anterior, foi confirmado durante o período do governo de gestão e reconfirmado pela maioria socialista. Em nenhum momento, João Menezes politizou o ICN, o que é salutar. Deveria ser regra na República, mas tem sido excepção.
Releio agora passagens do seu discurso de tomada de posse e constato que, em Dezembro, o novel presidente anunciara a intenção ousada de proceder à rápida aprovação dos planos de ordenamento de parques e reservas ainda omissos, bem como a delimitação de reservas ecológicas e respectivos regulamentos. Estamos em Setembro e, no seu mandato, o Parque Natural da Arrábida, a Orla Costeira Vilamoura-Vila Real de Santo António, o Parque Natural do Douro Internacional, a Paisagem Protegida do Litoral de Esposende, as Albufeiras de Santa Água, Pisco, Tapada Grande, Divor e Alvito e as Reservas Ecológicas de Castelo Branco, Fundão, Mértola, Évora e Arraiolos foram finalmente dotados(as) dos indispensáveis instrumentos de governação. Leio agora, através de anúncio publicado no jornal "Público", que outras três áreas protegidas iniciarão o penoso e protocolar processo de discussão dos respectivos planos de ordenamento.
Ao mesmo tempo, foram transpostas para a legislação nacional as Directivas Aves e Habitats e a bem mais importante Lei-Quadro da Água. Apesar da desilusão que marcou o conhecimento público da essência do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida, transparece a ideia de que a gestão ambiental portuguesa recomeça a entrar nos eixos. Para um comboio na iminência do descarrilamento, não está mau.