quarta-feira, junho 10, 2015

A cabeça do galego maldito



Há cerca de três anos, momentos antes de começar uma entrevista, foi-me mostrada uma cabeça. Melhor: a cabeça. A cabeça de Diogo Alves, o infame assassino em série que atormentou a cidade de Lisboa no segundo quartel do século XIX. Divertido com a minha incredulidade, o interlocutor de ocasião contou-me mais pormenores. Falou-me da frenologia, ciência ou pseudo-ciência com pretensões behavioristas, que partia do princípio de que a análise morfológica da cabeça de um ser humano talvez fornecesse pistas para o seu comportamento desviante. Em nome desta prática, serraram-se cabeças de criminosos executados. Fizeram-se medições. Publicaram-se estudos académicos. Houve correspondência acesa entre cirurgiões portugueses e austríacos sobre as “descobertas”. Os phrenologistas permaneceram activos em Portugal até à viragem do século.
Meses mais tarde, ainda com a imagem de Diogo Alves conservado em formol bem presente na minha mente, fiz uma viagem de carro com dois ilustradores de quem muito gosto. Um, ao volante, cumpria escrupulosamente o código da estrada, motivo pelo qual demoramos sempre quatro horas para chegar ao Porto [não avanço o seu nome para evitar represálias…]; o outro era o Miguel Alves.
Calhou em conversa contar-lhe a observação que fizera e de como começara a pesquisar o universo esquecido da frenologia. O Miguel foi fazendo perguntas. Estava precisamente à procura de um tema para explorar numa banda desenhada ainda em embrião. Queria trabalhar um tema histórico, mas, herdeiro da tradição de Frank Miller, queria algo mais escuro. Mais negro. Mais perturbador.
Dessa conversa, nasceu um guião que fiz com todo o gosto e com a ingenuidade própria de quem trabalha em banda desenhada pela primeira vez (segunda, se contarmos com a saga Trondheim, cujo humilhante epílogo levarei para a cova). Desse barro, o Miguel construiu uma dissertação de mestrado muitíssimo bem argumentada. Tomou opções. Construiu todo um edifício narrativo, com opções maduras, próprias de quem sabe o que quer. Contou a história de Diogo Alves como ela nunca foi contada – ajudado pela orientação sábia do João Paulo Cotrim, um homem que parece conhecer o segredo para esticar as 24 horas do dia para lá dos limites da física heisenberguiana.
© Miguel Alves, 2015
Não tenham ilusões. No nosso projecto conjunto, o Miguel foi o carregador de piano e arcou com 95% da transpiração. Cabe-lhe todo o mérito.
Na passada sexta-feira, no pólo de Guimarães da Escola Superior Artística do Porto, com arguição de João Miguel Lameiras, o Miguel defendeu com sucesso o seu projecto académico e a sua interpretação em banda desenhada da história de Diogo Alves, o assassino do aqueduto.
Terminou com 19 valores.
Quase que aposto que, em Lisboa, conservada em formol há mais de século e meio, a cabeça do galego maldito piscou o olho quando soube da novidade!

quinta-feira, junho 04, 2015

segunda-feira, junho 01, 2015

Chegará um ponto em que considerarão isto spam...



Chegará um ponto em que considerarão isto spam, mas não posso deixar de agradecer ao João Céu e Silva pela amável recensão do Parem as Máquinas! no Diário de Notícias de sábado, 30. Sobretudo porque ele escolheu um trecho onde homenageio o saudoso Vitor Galvão Correia.