Os museus portugueses não são os pólos de atracção que todos gostaríamos que fossem. É um daqueles tópicos em que cada um tem uma causa favorita. Ora porque são enfadonhos, no sentido em que expõem as mesmas peças, do mesmo modo e no mesmo sítio há décadas; ora porque não têm capital para adquirir novos materiais; ora ainda porque as suas colecções, por mais boa vontade que exista, não ombreiam com as dos melhores museus em Inglaterra, em França, em Espanha ou nos Estados Unidos. Ora porque estão sufocados sob orçamentos ínfimos, que muitas vezes se esgotam no pagamento de salários aos seus quadros.
Num quadro destes, com tendência para se agravar à medida que as sucessivas ondas de impacte provocadas pelo aperto financeiro do país se fizerem sentir, é um mau sinal verificar que os museus da rede do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) registaram um decréscimo de visitantes de 2009 para 2010, de acordo com a informação estatística divulgada esta semana (ver documentos aqui). Não foram muitos, é verdade. Perderam-se 13.620 visitantes num universo de 2,3 milhões, mas constituem um mau prenúncio para o ano em curso.
Ora, hoje, após semanas de planeamento, desloquei-me a Sintra com a família para visitar o antecipado Museu de História Natural local. É um museu recente (que não faz parte da rede IMC, sublinhe-se), gerido pela autarquia e com espólio gentilmente cedido por um coleccionador. Já escaldado por outros passeios estragados, procurei na Internet informação útil sobre horários de abertura e dias de funcionamento. Fiquei descansado. O museu abre um pouco mais tarde nos feriados, mas abre. Ou pelo menos parecia. Pelas 12h30 do dia 23, esbarrámos na porta fechada e ficámos a saber que, por falta de pessoal, o museu agora encerra aos fins-de-semana e feriados.
Descartemos, por facilidade de argumentação, a informação errada que se encontra na página oficial do município. O senso comum diz-nos que os feriados e os domingos deveriam ser os dias nobres dos museus em Portugal, pelo menos para os turistas portugueses. A véspera de um antecipado São João deveria ser aguardada com expectativa nestas instituições, que combatem desigualmente contra outros destinos apetecidos. Não é. E é pena.
Analisando os dados detalhados agora disponibilizados pelo IMC, verifica-se que a percentagem de bilhetes de domingo/feriado nas contas de cada instituição gerida pelo IMC é significativa. Aleatoriamente, escolhi seis museus. Na Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, em Lisboa, os bilhetes de domingo/feriado correspondem a 12,5% dos bilhetes vendidos em 2010; no Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães, são 6,6%; no Museu do Chiado, em Lisboa, são 12,8%; no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, são 10,6%; no Museu Nacional de Arte Antiga, são 19,2%; e no Museu Nacional de Arqueologia, os 41.786 bilhetes vendidos ao domingo ou em feriados corresponderam a 43% das entradas no ano transacto. Com a agravante de que em todas estas instituições há muito mais visitantes portugueses do que estrangeiros a organizar a sua visita nestes dias, por motivos naturalmente ligados aos curtos períodos dedicados ao lazer interno.
Pode um museu dar-se ao luxo de fechar nestes dias? Em Sintra, pelos vistos, pode.