Sentimental como sou, quando analiso as ordens
de serviço da polícia política, fico chocado com a forma seca como os serviços
davam conta do falecimento de um funcionário (com excepção, naturalmente, dos
corpos dirigentes). «Abata-se ao efectivo por falecimento» era o código
administrativo e glacial para referenciar uma morte.
Este obituário do Público sobre a morte de João Gomes não anda distante disso. Seco,
lista cargos e funções, mas não percebe a importância do jornalista que ontem
tombou. João Gomes foi o primeiro em Portugal a exercer a profissão depois de
concluir um curso universitário em jornalismo (em Lille); foi um católico
comprometido com os movimentos anteriores e posteriores à revolta da Sé e penou
por isso em Caxias e no Aljube; foi um jornalista da velha guarda que entrou em
ruptura com os velhos republicanos do jornal República. Pelo meio, sim, foi fundador do Partido Socialista.
Abata-se então ao efectivo por falecimento.
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