Há 46 anos, também num 18 de Março, Eugénio Alves escreveu no República um dos mais curiosos textos
codificados da história da nossa imprensa. O golpe das Caldas, prenúncio da
revolução de Abril, falhara no dia 16. Alguns oficiais envolvidos nos preparativos
da revolução foram detidos. Receou-se o pior.
Coube a Eugénio Alves escrever a crónica do jogo entre Sporting
e FC Porto, disputado no domingo, 17 (não é que seja muito importante para vocês, mas o Sporting ganhou por dois a zero, com dois golos
do Dinis). O texto tanto descrevia a derrota dos nortenhos, como dava conta nas
entrelinhas do falhanço das Caldas, procurando incutir ânimo aos restantes
conspiradores.
Sob o título “Quem Travará os
Leões?”, Eugénio Alves escreveu: «Os muitos nortenhos que no fim-de-semana
avançaram até Lisboa, sonhando com a vitória, acabaram por retirar, desiludidos
pela derrota. O adversário da capital, mais bem organizado e apetrechado
(sobretudo bem informado da sua estratégia), contando ainda com uma assistência
fiel, fez abortar os intentos dos homens do Norte. Mas, parafraseando o que em
tempos dissera um astuto comandante, 'perdeu-se uma batalha mas não se perdeu a
guerra'.»
O texto passou na Censura e foi
publicado. Não se encontram documentos da Censura das últimas semanas antes da
queda da ditadura. Certo é que, quando o regime se apercebeu da brincadeira, já
a imprensa francesa tinha amplificado o registo. Eugénio Alves não chegou a ser
detido.
(a imagem é do Diário de
Notícias. Tenho o recorte do República
noutro computador, mas, com a quarentena, é o melhor que se pode arranjar)
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