Passaram ontem 104 anos sobre a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, na sequência do apresamento em portos portugueses de embarcações alemãs. Portugal entrava por fim na Primeira Grande Guerra.
Nas comemorações da efeméride, vale a pena contar em poucas palavras o "furo" de Hermano Neves, figura jornalística da Primeira República e pai de Mário Neves, que viria a ser director-adjunto do Diário de Lisboa e de A Capital.
Em 1985, numa conferência em Lisboa, Norberto Lopes contou a história do homem que faleceu na mesma casa em que nascera Fernando Pessoa, num quarto andar esquerdo do Largo de São Carlos. Em 1916, a pasta dos Negócios Estrangeiros cabia a Augusto Soares. Estava iminente o acto final que desencadearia a declaração de guerra. "A Capital" todos os dias apelava ao cumprimento do tratado de amizade com a Inglaterra.
Em 1985, numa conferência em Lisboa, Norberto Lopes contou a história do homem que faleceu na mesma casa em que nascera Fernando Pessoa, num quarto andar esquerdo do Largo de São Carlos. Em 1916, a pasta dos Negócios Estrangeiros cabia a Augusto Soares. Estava iminente o acto final que desencadearia a declaração de guerra. "A Capital" todos os dias apelava ao cumprimento do tratado de amizade com a Inglaterra.
No dia 9 de Março, Soares recebeu das mãos do barão Van Rosen, ministro alemão em Lisboa, a nota que implicava o corte de relações. Não a podia revelar a ninguém antes de sair para a Assembleia. Saiu do seu gabinete em passo veloz e entrou no carro oficial. Hermano Neves esperava-o na estrada.
Num ponto estratégico do percurso, interrompeu a marcha do automóvel, bloqueando-o. Abriu a porta do carro e, sem cerimónias, entrou. Augusto Soares achou graça ao atrevimento. Contou-lhe a notícia, exigindo sigilo até ao anúncio oficial aos deputados. Cada um saiu para cumprir o seu dever.
Augusto Soares explicou aos deputados o ponto de situação. Hermano dirigiu-se ao jornal para escrever. Quando os deputados saíram para a rua, o jornal tinha esta edição a circular.
De Hermano Neves, disse Luís da Câmara Reys: «O jornalismo é um pouco como a cirurgia. Exige olhar e pulso firmes, execução rápida e brilhante e – quanto à moralidade e independência – uma grande limpeza de mãos. Infelizmente, sob este último ponto de vista, há para aí tantas unhas de luto!»
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