Perto do sítio onde moro, existe um palacete arruinado, vestígio
triste da arquitectura elegante de início do século XX. Foi a propriedade
imaginada para si por Francisco Mantero, empresário colonial. Até 1927, data do
seu falecimento, viveu aqui. Depois, há duas versões: a factual e a inventada.
Segundo a factual, a viúva ainda viveu neste elegante palacete
até 1952. Os tectos eram habilmente decorados e a escadaria interior
requintada. Gostava de ver uma fotografia dessa época. Seria uma das
propriedades elegantes e cobiçadas da cidade, enquadrada por uma paisagem
florestal única. Morta a senhora, os descendentes venderam tudo à cidade e ninguém voltou a
viver aqui.
Na versão inventada, esta é uma casa assombrada. Mantero teria
trazido uma indígena linda de São Tomé, instalando-a no palacete. O ciúme foi
crescendo e o proprietário tê-la-ia emparedado numa divisão, levando-a à
loucura – solução técnica para combater a infidelidade que foi caindo em
desuso.
Os maluquinhos do bairro (também os temos) dizem que à noite ainda se ouvem os gemidos da senhora. Não é aconselhável meter a cabeça lá dentro para clarificar a questão. A casa está em vias de colapso. Com ou sem indígena, deixámos este património único chegar a tal ponto.
Os maluquinhos do bairro (também os temos) dizem que à noite ainda se ouvem os gemidos da senhora. Não é aconselhável meter a cabeça lá dentro para clarificar a questão. A casa está em vias de colapso. Com ou sem indígena, deixámos este património único chegar a tal ponto.
E esse é o crime desta história.
2 comentários:
Ja alguem se deu conta que este enredo foi adaptado da Jane Eyre? "Madwoman in the Attic"
Não tinha pensado nisso, Cláudia. É exactamente isso. Esperemos só que nos poupem à cena final do incêndio. Era o último acto que o Palacete Mantero-Belard dispensava.
Enviar um comentário