Permitam-me que partilhe uma perplexidade.
Durante muitos anos, consultava revistas internacionais de história e
arqueologia e ficava intrigado – parecia que as representações artísticas
nacionais e todo o tipo de tesouros arqueológicos dos nossos museus esbarravam
no desconhecimento estrangeiro. Era como se existisse um muro na fronteira, que
impedisse olhares alheios sobre as colecções depositadas nos museus tutelados
pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC).
Com injustiça, culpei os investigadores nacionais de não publicarem no
estrangeiro, em língua internacional, o resultado dos seus trabalhos. Cuidei
que era essa a razão para os espólios orgulhosamente sós das nossas colecções.
Nos últimos três anos, tenho sido responsável por uma colecção de edições
especiais de História da National Geographic. Lidamos com fotografias de todo o
mundo, agregadas e disponibilizadas pelas grandes agências de imagem. Um óleo
do Louvre, um mosaico de Pompeia, um sarcófago do Museu Egípcio do Cairo estão
disponíveis por meia dúzia de euros num contrato tácito entre essas
instituições e as revistas de divulgação, que permite que o seu espólio seja
amplamente conhecido e divulgado. Se duas pessoas detectarem a imagem de um
fauno de Pompeia e decidirem que, na próxima viagem a Itália, visitarão as ruínas da
cidade destruída pelo Vesúvio, estará pago o
esforço. Já para não falar da obrigação moral de divulgar à sociedade civil os
acervos conservados nas instituições.
Os museus tutelados pela DGPC não constam desses bancos de imagem
internacionais. Desconheço as razões. Talvez a inércia, talvez o receio de
perderem o controlo sobre as respectivas imagens. Os museus da DGPC estão, sim,
agregados no Matriz Pix, base de dados nacional que me cobra no mínimo 120 euros
por imagem. Não há negociação possível, não há argumento que mude mentalidades
– nem o facto de um leitor em Espanha ou Itália ficar a saber que existe um
Museu Grão Vasco com algumas das mais belas pinturas de retábulos da Europa. É
isso ou… repenicar a imagem de uma fonte menos oficial e gratuita.
Enquanto assim for, não estranhem que poucos para lá de Badajoz conheçam
os biombos de Namban (do Museu Nacional de Arte Antiga) ou os azulejos de temas
profanos do Museu Nacional do Azulejo.
Lá vamos, cantando e rindo. Com colecções ricas e guardadas ciosamente da
cobiça alheia como fazia o Harpagão de O
Avarento, de Molière.
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