sexta-feira, setembro 03, 2021

Mulheres jornalistas

 



       Na primeira metade do século XX, eram raras as mulheres nas redacções portuguesas. Tão raras que, da dúzia de senhoras que se destacaram, já deveria haver biografias mais substanciais sobre cada uma. 
       Maria Augusta Seixas deu-nos uma boa tese de mestrado sobre Virgínia Quaresma, a pioneira das pioneiras (embora não editada em livro). 
       O Wilton Fonseca descobriu um filão na brilhante Alice Oram, luso-britânica que relatou golpes e revoluções para os jornais ingleses. Começou também a identificar o papel de Joe Schercliff na política e no jornalismo portugueses de 1940-1960. 
       Com imodéstia, acho que dei a conhecer um pouco mais sobre a luso-brasileira Fernanda Reis, que saltou de pára-quedas na guerra da Coreia como enviada-especial de O Globo e foi redactora do Diário Popular, entre outros jornais. 
       Manuela Azevedo ditou memórias (falíveis e sinuosas, mas memórias) a Luís Humberto Marcos. 
       Maria Antónia Fiadeiro dedicou a sua tese a Maria Lamas em todas as suas dimensões – política, literária e jornalística. 
       Dina Botelho tratou a vida de Maria Archer. 
       Há dois anos, Isabel Baltazar publicou um primeiro opúsculo, com apoio da CM Arganil, sobre Irene de Vasconcelos, a primeira portuguesa licenciada na Sorbonne e correspondente do Diário de Lisboa durante quase uma década, cobrindo as sessões da Sociedade das Nações e entrevistando Mussolini e Briand. Julgo que esse trabalho está a ser continuado pela autora (encontrei, num arquivo que exploro, cartas inéditas de Irene que terão talvez alguma importância). 
       Faltam naturalmente outras. Carmen Marques, fundadora do Diário de Lisboa; Oliva Guerra, cantora e crítica musical; Francine Benoit, indecemente travada no Conservatório, mas com uma persistente acção corajosa de crítica de música no D. Lisboa; Aurora Jardim, cronista do Jornal de Notícias; Marta Mesquita da Câmara, primeira redactora de O Primeiro de Janeiro; e até Carlota Serpa Pinto, a Clarinha do "Chá das Cinco". 
       Há trabalho para fazer nesta área. Um bom ponto de partida é este livrinho e esta senhora, que tratava Indalécio Prieto por tu antes de este partir para a aventura da república espanhola.

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