O senhor da Secretaria aproxima-se da
minha mesa. Traz na mão duas cartas, como costuma acontecer todos os dias, mas
mostra-se mais circunspecto. Transporta-as como se carregasse uma granada sem
cavilha.
– Ahum…
– pigarreia. Tem aqui uma carta.
Interrogo-o com o olhar. O desconforto é
óbvio, a voz sugere que o remetente do envelope é a Autoridade Tributária ou o
Diabo em pessoa. Lá reduz o volume da voz e diz, quase num sussurro:
– São do FBI. Para si. Do Departamento de Justiça.
E fica ali, o imbecil, a aguardar que eu esclareça.
Gozo o prato. Mantenho o olhar sério. Viro e reviro os envelopes,
observo-os à transparência. Ainda me passa pela cabeça abri-los com uma pinça,
como se receasse uma explosão iminente, mas lá agradeço e o senhor da Secretaria
retrocede, danado, sem conhecer o conteúdo.
No interior, não vêm as prometidas respostas que eu esperava do FBI
Vault, o arquivo histórico da instituição. Não têm qualquer processo em nome de
Manuel Zorra, um português muito especial para a história da imprensa
portuguesa.
O resto... Terão paciência, mas vão ler daqui a uns dias, quando o livro
estiver nas livrarias – se encontrar lá o Senhor da Secretaria, terei o cuidado
de levar o dedo aos lábios, recomendando o silêncio cúmplice e necessário.
Afinal, as cartas vinham do FBI.
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